Assertividade positiva no relacionamento afetivo

Em nossa cultura lemos e ouvimos muito a frase “Eu te amo”. Na literatura e no cinema é frequente a expressão de sentimentos positivos “olho no olho” e, a maioria das pessoas a apreciam. Porém, no dia a dia, não raro encontramos casais que estão incertos quanto aos sentimentos um do outro, parceiros que moram juntos e não se conhecem mais intimamente ou não sabem se são amados. Isso ocorre porque raramente manifestam o que realmente sentem, principalmente seus sentimentos positivos em relação ao outro.

Provavelmente você já ouviu falar sobre comportamento assertivo (a capacidade de expressar sentimentos sinceros sem constrangimento). Incluem-se aqui, tanto a expressão de sentimentos positivos, por exemplo, dizer “Eu te amo”, quanto a expressão de sentimentos negativos como, por exemplo dizer o quanto está insatisfeito com o comportamento de alguém. Porém, é preciso lembrar, que, sempre que você se comporta assertivamente, isso produz uma consequência imediata para você e para o seu interlocutor.

As declarações de sentimentos positivos geralmente são mais bem aceitas do que declarações de sentimentos negativos. Por exemplo, uma mulher provavelmente aceitaria melhor um elogio sincero do seu marido do que uma crítica, embora o efeito do comportamento sempre dependa do contexto em que ocorre e da interpretação do interlocutor.

Nós terapeutas identificamos com frequência no consultório e no dia a dia o quanto homens e mulheres subestimam a importância de expressar seus sentimentos positivos em relação aos seus parceiros e, por outro lado, se preocupam muito em como expressar seus sentimentos negativos para que o outro entenda o quanto estão incomodados.  Porém, nas relações afetivas é crucial que cada parceiro aprenda a expressar sentimentos positivos, para que sejam bem sucedidos.

As pessoas tem uma enorme dificuldade para conter uma raiva diante de um comportamento inadequado, ao passo que conseguem conter uma alegria diante de uma boa surpresa ou gesto de carinho! E quando procuram tratamento, estão interessados em saber como podem expressar sentimentos negativos da melhor forma. Raramente alguém se interessa em saber como pode expressar sentimentos positivos sem constrangimentos. Talvez, uma explicação para esse fato, do ponto de vista imediato, seria que a assertividade negativa funciona a favor da pessoa que a emite, enquanto a assertividade positiva funciona a favor de seu interlocutor.

Você pode estar pensando: “Então para ser mais bem aceito pelo meu parceiro, preciso fazer somente declarações positivas?” A resposta é não, porque comportamentos assertivos, sejam positivos ou negativos, produzem diferentes efeitos sobre as pessoas.

Uma declaração de amor ou um elogio, assim como uma crítica ou discordância, não tem necessariamente um efeito positivo ou negativo sobre o seu parceiro. Tudo depende da história de vida e das regras que estão controlando o comportamento dele, e do contexto em que o comportamento ocorre. Se você já entendeu que uma declaração de amor pode ter uma função de afago em uma relação e em outra pode ter o efeito de constrangimento, já deve ter descoberto que uma das chaves para se dar bem num relacionamento é conhecer bem seu parceiro!

Uma mulher pode ter formulado uma regra de acordo com a qual, independentemente do quanto invista na relação, nunca dará certo porque já fez de tudo para que seu marido mude e ele “não muda”. Controlada por essa regra, seu marido pode dar sinais ou fazer declarações de carinho, mas ela pode não perceber ou pode dizer a si mesma: “Ele não está fazendo isso de coração”, “Ele não está sendo verdadeiro. Está fazendo por obrigação”.  As declarações do marido não terá impacto positivo, não porque estão sendo inapropriadas, mas porque a mulher não está sensível as mesmas. Nesse caso, podemos dizer que a mulher, devido a várias circunstâncias da vida e problemas no relacionamento, tornou-se insensível a manifestações de afeto de seu marido.

Na relação afetiva, é preciso haver espaço tanto para declarações de amor quanto para a manifestação das discordâncias, insatisfações, etc. Os parceiros precisam se sentir acolhidos para manifestar seus sentimentos em geral. Isso é mais provável quando as declarações de discordâncias ou insatisfações (assertividade negativa) são precedidas por uma história de declarações de sentimentos positivos em relação ao outro (assertividade positiva).

Mas não se esqueça que suas ações precisam estar em concordância com o que você fala! Portanto, se você diz “Eu te amo” e ignora os sentimentos do seu parceiro, poderá ser tão ineficaz quanto passar o tempo todo fazendo críticas. Declarações de afeto percebidas como “superficiais”, ou “fingidas”, jamais terão efeitos positivos e duradouros.

Quando você busca ser assertivo em seu relacionamento, está procurando mudanças no modo de se relacionar.

– Se antes era agressivo, a mudança para um modo assertivo será bem acolhida pelo seu parceiro. Se antes você só conseguia dizer o que desejava em uma relação afetiva de forma rude, criticando ou ofendendo, você muda e aprende a expressar suas expectativas de modo assertivo, e, muito provavelmente será bem acolhido.

– Se antes era passivo, não sabia dizer não, a mudança para um modo assertivo pode não ser tão bem acolhida!

– Por exemplo, uma mulher que nunca manifesta sua opinião, seus desejos ou sentimento, que se comporta de modo passivo diante do seu parceiro, sempre acatando as decisões dele, mas com as quais nem sempre concorda, ao começar a se comportar de forma assertiva poderá enfrentar uma reação negativa. Para o parceiro, essa mudança poderá significar que as coisas não mais acontecerão do jeito que ele quer.

Contudo, quem deixa de ser agressivo ou passivo e começa a agir na forma de uma assertividade positiva – expressando sentimentos positivos, é mais provável que a mudança seja mais bem aceita pelo outro e, assim o relacionamento se torna mais saudável.

 

Referência:

Neno, S., Tourinho, E. Z. (2007). In: F. C. S. Conte e M. Z. S. Brandão. Falo? ou não falo? Expressando sentimentos e comunicando ideias. 2 ed. ver. ampl. Londrina: Mecenas, 2007.