A compaixão e a resiliência de Chico Xavier

Quando menino frequentava o centro espírita com minha avó materna. Gostava de ver as pessoas vestidas de branco, que me davam “passes”. Minha avó me dizia que lá se fazia caridade e que Chico Xavier era um mestre espiritual, que tinha compaixão pelo próximo.

 

A minha querida avó sabia que a compaixão é um sentimento relacionado com a ternura. A essência da compaixão é de que a pessoa “sofre com” ou em um sentido mais amplo: “sente com a outra pessoa”, um aspecto marcante na vida de Chico Xavier.

 

Li a biografia de Chico Xavier, num olhar psicoterapêutico, pois não sou kardecista e fiquei tocado por uma outra característica dele: a resiliência, uma vez que Chico foi uma pessoa flexível mental e emocionalmente. Ele sentia-se confortável em utilizar as suas qualidades e atitudes nos ambientes difíceis e injustos que viveu. Tinha a capacidade em ser ao mesmo tempo, racional, sério, intenso, intuitivo, alegre, gentil, compassivo e empático.

 

Assim foi Francisco Cândido Xavier, que nasceu em 1910 em Minas Gerais numa família pobre, teve 9 irmãos e seu pai era um vendedor de bilhetes de loteria e sua mãe uma lavadeira católica, ambos analfabetos.   A mãe de Chico faleceu e o pai sem condições de criar os filhos distribui-os entre os parentes, mas Chico foi criado pela sua madrinha, uma pessoa perversa. Na fase adulta seus empregos foram vendedores, tecelão e datilógrafo.

 

Com sucesso, em 1932, Chico publicou o Parnaso de Além-Túmulo pela Federação Espírita Brasileira e ao saber que a obra tinha sido escrita por um modesto escriturário, persistiram as críticas que tentavam desacreditá-lo e ainda tinha que lidar com os inimigos espirituais. Em 1943, lançou um dos livros mais populares da literatura espírita, o romance Nosso Lar, o mais vendido da extensa obra do médium, que em 2010, se tornou um filme que vendeu 2 milhões de películas.

 

Chico, em l982, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz com 2 milhões de assinaturas. Psicografou, na década de 1990, 450 livros que vendeu 50 milhões de exemplares e foi o escritor brasileiro de maior popularidade da história e também psicografou 10 mil cartas. Nesse período havia 2 mil instituições de caridade mantidas graças aos direitos autorais dos seus livros.

 

A sua fama ampliou-se no exterior, com suas obras traduzidas em diversas línguas e que ganhou adaptações para telenovelas. Porém, cedeu os direitos autorais as instituições de caridade, uma rede espiritual e de solidariedade organizada em todos país e nunca cobrou nada dos favorecidos, mesmo assim sofria ataques dos seus detratores.

 

O brasileiro, Chico Xavier morreu pobre aos 92 anos, em 30 de junho de 2002. O país festejava a conquista da Copa do Mundo de futebol e no seu velório compareceram 120 mil pessoas. O seu legado superou as barreiras religiosas, por isso que é reconhecido como um grande líder espiritual, que não precisou construir templos colossais, cobrar dízimos, iludir os fiéis com falsos milagres, comprar canais de televisão e rádio para impor sua doutrina.

 

Enfim, Chico Xavier era uma pessoa que assimilou rapidamente as experiências novas ou inesperadas e agregou essas mudanças à sua vida. Mesmo em meio à crise ele experimentou emoções positivas, que utilizou a serviço do seu plano espiritual, para promover a caridade e o amor, com objetivo ajudar gratuitamente milhões de pessoas.






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista