Crianças desorientadas, crianças agressivas

Por Adriana Nogueira

Kim John Payne diz que em décadas de carreira, como school conselour, nunca encontrou uma criança ou um adolescente agressivo. Encontrou jovens desorientados.

Essa perspectiva faz uma grande diferença. Nos diz que a agressividade vem do sentimento de estar desorientado, confuso, perdido. Estamos desorientados quando não sabemos o que fazer, por onde ir, como entender e se entender. O que está nos acontecendo? O que é isso que eu sinto? Como lidar com uma situação nova, inesperada, difícil? Sem orientação, sentimo-nos perdidos. As crianças precisam de líderes. Sem a direção, sentem medo. E têm raiva. E dirigem sua raiva para os adultos que delas deveriam cuidar, os pais em primeiro lugar.

Agora, os pais, por sua vez, podem nem saberem o que está acontecendo com eles mesmos! Pouquíssimos tiveram uma criação que gostariam de repassar aos filhos, e muitos não têm sequer tempo para parar e pensar no que suas crianças precisam – além de tudo o que já dão. Entretanto, cabe a nós, adultos, arregaçarmos as mangas e fazermos espaço em nossa agenda para nossos filhos, cujas necessidades mudam a cada fase do desenvolvimento e a cada mudança na vida familiar, na escola, entre os amigos, etc. Se não nos darmos esse trabalho, o boomerang retornará contra nós, sem a nossa guia, as crianças irão buscá-la junto aos amigos. E podemos, um dia, descobrir que temos em casa um estranho que nos trata com o mesma falta de consideração com a qual ele se sentiu tratado por nós.

Voltamos então a Payne, autor de diversos livros voltados para ajudar os pais a criar crianças resilientes e famílias mais unidas e fortes. A direção que as crianças precisam deve ser dada de forma firme, mas tranquila, sem críticas e sem fazer a criança se sentir errada ou inferior. É normal que ela não saiba, que precise de ajuda e que nem sabe que precisa de ajuda. Cabe-nos ir ao encontro e, metaforicamente ou não, pegá-las pela mão.

E nisso entram os limites, que muitas vezes os pais não sabem dar. Existe um pudor em dar limites, o que é errado. A negação deve ser encarada, diz Payne, como uma definição de valores. Dizemos “não” a atitudes, linguagem, modos, gestos que não pertencem aos valores da nossa família. O que remete por sua vez à questão da identidade: quem somos? O que queremos ser? Os pais precisam se perguntar isso e definir sua identidade como família. A partir dela, certos comportamentos serão incluídos e outros excluídos. Simples.

Agora, é importante prestar atenção num detalhe. Quando a criança está “acting out”, ou seja, está se comportando mal, ela está comunicando algo aos seus pais em primeiro lugar, isto é que ela está se sentindo desorientada, e que por isso está com medo, e que do medo vem a agressividade, e ela está pedindo ajuda. A tarefa dos pais é compreender o que ela precisa. E aqui está o ponto: cada um olha o mundo a partir de seu horizonte. Se não abrirmos um pouco mais a cabeça, não só em largura como em profundidade, continuaremos sem entender nossos filhos. Não basta usar uma linguagem educada e controlada quando as crianças são malcriadas, se por dentro nos sentimos explodir. A criança vai perceber e se ligar na explosão. Tenhamos cuidado para não cair na “educação politicamente correta”, que teme olhar de frente para o furacão. Educação funciona com amor e honestidade.

John Payne dará a palestra “Exclusion: So Hurtful, So Subtle”, nesta sexta, 20 de janeiro, em Delray Beach, no Duncan Center Chapel, na 15820 Military Trail. Interessados contatem: Paula Betancur, no 561.654.4037.

Imagem de capa: Shutterstock/Iren_Geo

TEXTO ORIGINAL DE GAZETA NEWS






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