A interpretação dos acontecimentos reflete no sofrimento do sujeito

O ESTRESSE é uma ocorrência fisiológica necessária para a adaptação do organismo a uma situação nova ou a uma situação entendida como uma ameaça. Podemos dizer que o estresse é uma reação a uma tensão interna ou externa, tanto de ordem física quanto psicológica.

O estresse acontece em diferentes níveis, desde o nível saudável que corresponde ao estado de alerta, passando por uma queda da resistência em razão de se tornar contínuo, até chegar ao esgotamento ou a exaustão caso persista, enfraquecendo a imunidade do organismo e dando brecha para diversos sintomas se instalarem (fadiga, irritabilidade, queda de cabelo, gripes, herpes, alergias, hipertensão, ansiedade, etc.)

Sob a ótica da Psicanálise o sujeito humano é construído pela natureza e pela cultura. Portanto, o corpo biológico está interligado a representações e símbolos presentes na linguagem e na vida social.

Nomeia-se de “pulsão” algo que existe entre o somático (corpo) e o psíquico (mente). Isso implica que o sujeito é movido não somente por necessidades fisiológicas ( fome), como também por desejos (amor). Existe, assim, uma demanda de afeto e de reconhecimento do outro para além da satisfação das necessidades.

Porém, nem todo desejo é consciente.

O inconsciente não nos é acessível diretamente, mas determina a nossa maneira de interpretar o mundo, a nossa identidade, os nossos ideais, as nossas escolhas (amorosas, profissionais, sociais) e até mesmo o nosso adoecimento e os nossos sintomas.

Dentro desta perspectiva, o estresse acompanha um desejo inconsciente e uma ANGÚSTIA. Podemos dizer que a angústia é sentida na mente, no psiquismo, enquanto o estresse é sentido no corpo.

Durante a Psicoterapia, o sentimento de angústia, difícil de ser dito, tem espaço para ser nomeado de acordo com aquilo que faz SENTIDO para o sujeito. O sintoma que aparece no corpo podem ser o mesmo em diferentes pessoas, mas o sentido e o significado que ele carrega é próprio de cada um.

Continuarei a usar o termo “estresse”, mais conhecido pelo senso comum.

Eventos estressantes ocorrem no dia-a-dia seja no ambiente de trabalho, no trânsito, na educação dos filhos, na vida conjugal, entre outros momentos em que as coisas parecem perder o sentido e entrar em um círculo vicioso e repetitivo.

O fato de lutarmos para nos adaptar a uma realidade pode gerar estresse. No entanto a própria “realidade” em si é criada por nós, chamada pela Psicanálise de “realidade psíquica”.

De acordo com o filósofo grego Epíteto não sofremos pelos fatos, mas pela interpretação dos fatos.

Para um claustrofóbico, por exemplo, andar de elevador pode ser uma experiência muito estressante, enquanto para a maioria dos sujeitos é algo corriqueiro. Já um homossexual pode sentir-se constrangido ao entrar em um vestiário masculino, enquanto para outros sujeito pode ser algo comum.

Interpretações catastróficas dos fatos disparam emoções desconfortáveis, que repetidas vezes podem influenciar sintomas físicos (como, por exemplo, doenças cardíacas, problemas gastrointestinais, distúrbios do sono, ansiedades, fobias, entre outros).

Geralmente algumas pessoas lidam melhor com situações de tensão, pois seus valores pessoais e significados atribuídos as experiências vividas levam-na a encarar os fatores estressantes de maneira menos “apavorada” que outras, vamos por assim dizer.

Portanto, a percepção e a interpretação que fazemos daquilo que nos acomete, ou seja, a nossa forma de enxergar e lidar com as situações é que determina o quanto elas poderão nos causar estresse.

Diante disso temos que, a forma como reagimos ao estresse importa mais do que a quantidade de estresse que enfrentamos.

Para tratar o estresse e a angústia do sujeito, diferente do saber médico, que vai interpretar os sintomas e medicar (e isso é muito importante também), o saber do inconsciente dará voz ao sujeito para que ele reencontre o sentido de sua vida ao identificar aquilo que o afeta, buscando deixar de ser prisioneiro das demandas excessivas e estressantes.

Por isso dizemos que pessoas que detém autoconhecimento são capazes de identificar seus afetos e conseguem manter o controle diante de uma realidade estressante, correndo menos riscos de “deslocar” suas tensões internas para o corpo em forma de sintomas e problemas de saúde.

Viver a vida mais leve pode exigir termos a CONSCIÊNCIA do que está em nossas mãos e do que depende de condições externas para acontecer, respeitando os limites do nosso corpo e da nossa mente e aceitando as limitações do outro em atender (ou não) as nossas expectativas.

“Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.” (Picasso)






Psicóloga clínica de abordagem psicanalítica na cidade de Limeira-SP; possui Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela FCA- UNICAMP; ministra palestras com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano. Também possui formação em Administração de Empresas e experiência na área de RH (Recrutamento & Seleção e Treinamento e Desenvolvimento).