A linguagem dos clichês e do intelectualês

O que chamamos de clichês são chavões ou frases prontas, aceitas como verdades universais, reproduzidas ao longo dos anos, que acabam se transformando em vícios de linguagem. Os clichês ainda são expressões, que pelo fato de ser usadas em excesso, tornaram-se “lugar-comum”.

Os clichês não incidem só na linguagem verbal, mas em outras linguagens. São situações recriadas à exaustão, podemos citar alguns exemplos. Nos discursos políticos: homem de luta, aquecimento global, coletivismo, ação afirmativa, obra faraônica, o conjunto da sociedade, a população precisa ser conscientizada, a natureza deve ser preservada, o homem deve parar de fazer guerras.

Nas novelas: a jovem pobre, bondosa, correta e trabalhadora apaixona-se por homem rico e poderoso cuja família não aceita a relação entre os dois. Na propaganda: uma praia ou um campo paradisíaco, uma linda jovem e um belo rapaz com roupas voejadas. E nos filmes: moço franzino, de aparência humilde, bom caráter, defensor da justiça social confronta-se com antagonista de aspecto físico forte, avantajado, de índole maléfica e mau caráter.

A lógica dos clichês é mesma da estupidez, mas como uma ausência defeituosa de inteligência, contrário a ignorância, que é a falta de conhecimento. Por isso, há uma ampla fabricação de clichês, como fenômenos da estupidez, que são captados nos discursos políticos, na programação da TV e na produção de filmes, sobretudo nas redes sociais.

Nesses casos os receptores são bombardeados pelas mensagens dos clichês, que se apoiam em opiniões e crenças baseadas no senso comum, que tentam de propósito transformá-los em cegos e surdos, mesmo com evidências contrárias. Enquanto a dissimulação da política, das novelas e dos absurdos publicados nas redes sociais existirem, a estupidez humana será fonte de entretenimento, gargalhadas e tragédias.

Os clichês são difundidos pelo senso comum, uma herança cultural que tem a função de orientar a sobrevivência humana nos mais variados aspectos. Sendo uma maneira de pensar, como verdade incontestável. É preciso ficar atento, pois o senso comum reproduzir preconceitos: os muçulmanos são terroristas, os ateus vão para inferno, a homossexualidade é uma doença, as mulheres são frágeis, bandido bom é bandido morto.

Existe também uma outra forma de estupidez, que é linguagem do intelectualês: juridiquês, economês, mediquês, psicologuês, sociologuês, etc, uma linguagem tecnicista de um seleto grupo de quem sabe, de quem fala, de quem lê essa parola inacessível, que não quer se comunicar com os “pobres mortais”, para preservar o status quo.

A psicologia social caracteriza esse processo como massificação cultural, tendo com um dos defeitos mais danosos alienação. Pela falta de educação e senso crítico a linguagem dos clichês e do intelectualês sustentam essas ideias estúpidas, culminando em prejuízos como a discriminação e os abusos de todos os gêneros.

 






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista