A maternidade e a procura da felicidade eterna

Outro dia uma amiga que está tentando engravidar me ligou, chorando.

– Nívea, preciso falar com alguém.

– Oi, querida, o que foi? Você está bem? O que aconteceu, está chorando?

– Pois é, a menstruação veio de novo. Eu não acredito, dessa vez tinha certeza de que estava grávida. Atrasou e eu estava quase comprando o exame de farmácia. Decidi esperar mais alguns dias, no fundo, porque queria acreditar que tinha dado certo.

– Ah, não fica assim. Você vai ficar bem. Eu sei que é difícil, você sabe que também tive dificuldade para engravidar. Mas no mês que vem você tenta de novo, e de novo, e de novo, até dar certo. Você é jovem, saudável, não precisa ficar desse jeito.

– É que finalmente eu achei que ia ser feliz.

Ao ouvir aquela frase, senti um aperto no coração. Claro que minha amiga estava fragilizada, triste, desesperançosa, e talvez tivesse dito aquela frase sem sentir aquilo de fato. Mesmo assim, um alarme soou em meu cérebro. Será que ela não era feliz? Será que estava depositando todas as suas esperanças de felicidade em um filho?

Como ela, já vi muitas mulheres acharem que um filho salvaria seu casamento; daria um sentido para sua existência; transformaria sua vida sem graça em dias repletos de alegria. Claro que uma criança é uma grande benção, que enche uma casa de barulhos e de afeto. Que toma seu coração de um jeito, que você finalmente descobre que existe um amor maior. Mas um bebê que chega também é o caos se instalando em uma casa; é abrir mão de muitas coisas que te fazem felizes (dormir oito horas por dia, comer comida quente, sair de casa quando e por quanto tempo a vontade mandar, só para citar algumas); é renunciar, pelo menos por um tempo, da vidinha de um casal sem filhos, que, cá entre nós, é uma delícia.

Naquele momento, eu queria dizer à minha amiga que a maternidade não leva à felicidade eterna. Sim, ela traz vários momentos felizes, que são permeados por dificuldades – é o filho que fica doente, é o ataque de birra que te enlouquece, é o cansaço da dupla, às vezes tripla jornada. Um filho pode ser um grande motivador para se levar uma vida melhor, mas não é condição imprescindível para que alguém seja feliz.

Está mais para o contrário: não é o filho quem te dá felicidade; é você, que fazendo-o feliz, se sente da mesma forma. E é por isso também que uma mãe triste precisa, antes de mais nada, cuidar de si – do contrário, dificilmente seus filhos estarão bem (o que leva a um ciclo vicioso, uma vez que olhando para aqueles que ela mais ama, ela se sentirá uma devedora).

Se eu pudesse dar um conselho a essa amiga, diria que, muitas vezes, uma criança espera o momento certo para chegar. Ela aguarda até que sua família esteja pronta para presenciar um milagre. A chegada de uma nova vida.






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