Mentira ou mentirinha: a síndrome de Pinóquio

Quem nunca contou uma mentirinha? Contudo, têm pessoas que levam a mentira muito a sério, passando a vivê-la como se fosse verdadeira. Esses indivíduos são os mitômanos. Mas não podemos confundir mitomania – que é diferente de um mentiroso compulsivo, que possui a noção exata de que está mentindo para livrar-se de problemas. Isso me faz lembrar de algumas histórias.

Quando eu era menino minha saudosa avó me dizia: “Mentira tem perna curta em seguida às pessoas tropeçam nela. Portanto, não minta meu filho”. E minha falecida mãe me alertava: “Quem mente cai os dentes.” Eu achava se mentisse perderia meus dentes. Esses ditados populares contêm muita sabedoria, uma vez que toda mentira por uma questão de tempo será descoberta.

Para me livrar de um chato que foi no portão de minha casa para me chamar pela terceira vez, não quis atendê-lo e pedi ao meu filho que na época tinha cinco anos de idade informasse ao sujeito que eu não estava em casa. Meu filho seguiu à risca o recado: “Meu pai mandou dizer que não está em casa”. Criança não sabe mentir, mas aprende com os adultos.

Convivi na minha juventude com um amigo que para conquistar suas namoradas mentia para elas que era Tenente do Exército e que nas horas vagas tocava numa banda e era dono um Passat. O falso Tenente conseguia cativar algumas garotas com sua lábia, mas quando elas descobriam a mentira acabavam a relação com ele. Quando a esmola é demais o Santo desconfia, diz o ditado.

Conheço um rapaz que afirma com convicção que foi abduzido por extraterrestres e quando esteve com eles aprendeu a falar com os mortos. Essa pessoa é um mitômano, com uma tendência patológica à fabulação. As histórias imaginárias dos mitômanos são, às vezes, pitorescas, bem concatenadas e induzem à convicção. Quem sofre disso cria uma realidade paralela tão boa que passa a acreditar que vive nela.

De uma forma ou de outra convivemos com a mentira, seja ela pequena ou grande, porém a mentira sempre será prejudicial às relações humanas. Não importa o tamanho da mentira, que pode ser transformar na síndrome de Pinóquio – que é a mentira compulsiva, em que são inventadas histórias para livrar-se de problemas, pois o mentiroso encara tal hábito como se a mentira fosse boa ou inofensiva.

Existem indivíduos que afirmam com frequência que é mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa grande mentira dita muitas vezes, do que numa pequena verdade dita apenas uma vez. Tática utilizada pelo Ministro da Propaganda Alemã Joseph Goebbels do Terceiro Reich. A mentira de Goebbels na política é uma forma de tirar proveito de um conflito, na mídia é um meio de manipulação, no crime é um instrumento de fraudes e nas relações afetivas é um modo de defesa.

Para a psicanálise a mentira está ligada aos mecanismos de defesa como o da negação, porque ela pode proporcionar algum tipo de alívio. Porém, os efeitos da mentira podem ser desastrosos. Apesar disso, existe tratamento psicológico ou psiquiátrico que é capaz de amenizar o problema, mas não solucioná-lo totalmente.






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista