O amor não precisa ser perfeito, basta ser amor

“O amor é paciente, amor é eterno, o amor é sempre bondoso, o amor não sente raiva, o amor não sente ciúme, o amor não pode ser invejoso, o amor tudo suporta……”

Sempre me questionei sobre essas afirmações acerca do amor. Invariavelmente, me pegava duvidando desses conceitos.

Será mesmo que é assim que amamos? É dessa maneira que vivemos nossos amores cotidianamente? O nosso amor é mesmo perfeito, sublime, eterno? Ele tudo aguenta? O nosso amor tudo suporta? Será que o nosso amar é realmente assim?

Que me desculpem os poetas, os escritores, os amantes enlouquecidamente apaixonados, mas não consigo enxergar o amor dessa maneira. Prefiro acreditar no amor possível. No amor humano, e justamente por isso, imperfeito. Prefiro acreditar no amor de Andrade Moraes, que em um de seus maravilhosos textos, descreve e reconhece esse amor imperfeito: “Ouço em canções e em bordões, “quem ama não faz o ser amado sofrer”. Não sei se é realmente assim. Acredito que, quem ama não quer fazer o ser amado sofrer, mas faz….” (trecho do texto).

Às vezes, faz sofrer sim, ainda que de forma inconsciente. E isso significa que não é amor? Não creio. Fazemos o outro sofrer, porque somos seres humanos e, portanto, incompletos, errados……..imperfeitos.

Amo algumas pessoas. Amo muito. Entre elas, meu lindo filho. E mesmo esse amor materno – talvez a maior expressão de amor desse mundo e todos os outros, se existirem – é imperfeito. Até mesmo o meu amor de mãe, gigante, imenso, quase indescritível, comete erros. Excessos. Equívocos. E não me sinto culpada em admitir isso. Não me sinto porque sei que mesmo na imperfeição o que sinto é amor. Mas é o amor humano e não o amor perfeito. É o amor possível.

É claro que não estou tratando aqui das formas agressivas, violentas e doentias de expressar sentimentos. Essas maneiras passam longe do amor. E não merecem ser denominadas como tal. Estou falando dos deslizes cotidianos. Das transgressões não muito graves. Dos erros que todos nós cometemos. Das pequenas falhas. Das faltas. Dos lapsos aceitáveis. Dos enganos…..

E mais, o amor como sentimento que é, é subjetivo. Cada um de nós entende e expressa de forma única, peculiar, singular. Tentar encaixar esse sentimento tão vasto e cheio de possibilidades, em padrões, conceitos, fórmulas, é de certa forma, tentar nos colocar em uma “caixa” onde todos os amores são sinônimos. E eles não são.

Entretanto, ainda que nossas formas de amar não sejam perfeitas, não podemos esquecer que é necessário esforço, comprometimento e acima de tudo, muito respeito no ato de amar o outro. É preciso cuidar, estar, ouvir, enxergar, perceber. Investir. É necessário e salutar dedicar-se aos amores e amados (as). E, não para atingir a perfeição, mas pela possibilidade de vivenciar o mais plenamente possível esses amores. Pela simples (e magnífica) possibilidade de amar e de ser amado. Pela possibilidade e necessidade de vivermos relações saudáveis, felizes, prazerosas.

E assim, mesmo nas nossas limitações humanas, vamos vivendo os nossos amores. Amando, sendo amados……..Cada um a seu modo e dentro das suas possibilidades. Pois, na imperfeição também há amor.

O importante mesmo é amar. É investir no amor. É acreditar nele. É vivê-lo. É não desistir nem por um só momento desse tal “amor”. Porque, como disse o genial poeta, Carlos Drummond de Andrade: “Pois de amor andamos todos precisados!”  






Graduada em Letras pela faculdade FUNESO/UNESF - Olinda - PE Especialista em Gestão de pessoas pela FCAP/UPE - Recife - PE Leciona para jovens e adultos. Dá palestras. Duas áreas de grande interesse: comunicação e comportamento humano.