O Gosto Pela Aprendizagem
Stitched Panorama

Dentre as 24 Forças do Caráter propostas pela Psicologia Positiva há seis que, segundo Martin Seligman, dizem respeito ao grupo das virtudes humanas associado ao Saber. Essas seis forças pessoais podem ser compreendidas como caminhos que nos conduzem à demonstração do saber e ao seu ferramental basilar, o conhecimento. Este post especificamente discorre sobre a força pessoal  Gosto Pela Aprendizagem. As outras 5 forças do grupo saber são a Curiosidade, o Critério, a Criatividade, a Inteligência Emocional e a Perspectiva.

A princípio, pode parecer que Gosto Pela Aprendizagem e Curiosidade são a mesma coisa, mas não são! A curiosidade caracteriza uma atração pelo que é novo, desconhecido, inédito, etc. Mas, uma curiosidade por culinária, por exemplo, pode significar simplesmente uma disposição para experimentar comidas exóticas ou por assistir um programa do Curtis Stone que está “rolando” na TV. Dessa forma, o interesse por culinária pode morrer assim que a curiosidade seja satisfeita. Melhor dizendo, a curiosidade culinária não faz de ninguém um grande cozinheiro ou um profundo conhecedor do assunto.

Quando alguém tem Gosto Pela Aprendizagem ele se envolve na busca de informações pelo assunto que o interessa, mesmo que este já seja há muito um tema familiar. Ou seja, o interesse por algo não “morre” depois de passada a empolgação com a novidade. O Gosto Pela Aprendizagem, portanto, é caracterizado por uma busca contínua e está associado ao desejo de se aprofundar no conhecimento de alguma coisa.

Quem tem Gosto Pela Aprendizagem adora estudar, não necessariamente em uma sala de aula! Bibliotecas, museus, livrarias, viagens, conversas e até salas de aula! Qualquer oportunidade de aprender parece convidativa. Em geral, as pessoas que têm Gosto Pela Aprendizagem se tornam expertos em alguma área, seja pelos caminhos formais da Academia ou como autodidata. O conhecimento dessas pessoas é sempre admirado e valorizado por aqueles que fazem parte do seu círculo social e muitas vezes por um público ainda mais amplo.

Essa capacidade de se envolver com o conhecimento, incorporá-lo e transmiti-lo, ocorre porque a pessoa com Gosto Pela Aprendizagem não quer aprender visando a algum tipo de recompensa ou benefício. O que a motiva a buscar o saber é o próprio prazer de aprender. As pessoas com essa característica não fazem um curso para ter o diploma, mas para adquirir conhecimento; não compram um livro para mofar na estante, mas para lê-lo; não vêm um filme porque todo mundo viu, mas porque querem vê-lo… A pessoa com Gosto Pela Aprendizagem quer compreender, entender as “engrenagens” por trás das coisas, seja uma máquina, uma teoria, uma receita, uma fórmula, uma língua, uma prática. Para elas não basta apenas repetir o que lhes foi passado, elas precisam desvendar os códigos, os conceitos, a matéria da qual as idéias são feitas. Elas desejam e precisam se apropriar do conhecimento.

O que isso tem a ver com a Felicidade? Ora, ora! Conhecer é libertador! Quando conhecemos as estruturas, a origem das coisas – os motivos que elas despertam e alimentam em nós – deixamos de aceitar passivamente receitas prontas, seja lá do que for. Conhecer nos ajuda a questionar e, mais do que tudo, a escolher. Fazer escolhas implica, necessariamente, conhecer as opções disponíveis. Aquele que não se dedica verdadeiramente a conhecer, não faz escolhas, apenas aceita o que lhe é oferecido sem sequer saber se está fazendo a melhor opção. E para sermos felizes é fundamental que possamos escolher, ou melhor, que saibamos fazê-lo. Não importa se estamos escolhendo um(a) namorado(a) ou um filme, uma pizza ou uma profissão.

Nesse sentido, o Gosto Pela Aprendizagem deve ser aquele comportamento que naturalmente segue a Curiosidade. Já que: uma vez que o interesse por alguma coisa nos desperte, o desejável é que sejamos capazes de nos aprofundarmos o suficiente para podermos avaliar a importância daquilo que nos despertou para a nossa vida. Para podermos proceder tal tipo de avaliação, contudo, é essencial que tenhamos a disposição para conhecer – nos informando sobre o assunto, experimentando quando necessário. É conhecendo que amealhamos o volume indispensável de referências para compararmos duas ou mais situações e, assim, podermos fazer as opções que nos conduzirão a uma vida mais de acordo com os nossos próprios desejos e necessidades. Ou seja, saber escolher o que é o melhor para nós mesmos é, sem sombra de dúvidas, um bom caminho para a felicidade.

Esse caminho pode ser pavimentado com algumas atitudes que nos ajudam a desenvolver e a manter o Gosto Pela Aprendizagem como por exemplo:

– Procurar identificar aquilo que realmente te mobiliza em termos emocionais. O que te emociona? O que te encanta? O que você pára para ver quando está andando na rua? O que te faz deixar o controle remoto de lado quando assiste televisão? Que parte do jornal você procura ler quando ele chega a sua mão?

– Para responder às perguntas acima você precisa ser muito sincero com você mesmo. Precisa parar e avaliar algumas coisas do tipo: o que você faz mais para agradar aos outros do que a você mesmo? Que assuntos você conversa só para não ficar “de fora” da turma? Que coisas você evita fazer e dizer para não desagradar as outras pessoas? A quais lugares você vai mesmo detestando? Quanto de tudo o que você faz na sua vida é só por obrigação?…

– Respondendo perguntas como essas, e comparando-as, você pode descobrir que muito do seu (des)interesse pelas coisas pode ser condicionado por decisões que, de fato, não te dão prazer e satisfação. Ou ainda, que você nem mesmo sabe do que você gosta! Sem saber o que te motiva fica muito difícil iniciar uma jornada ao conhecimento e mais difícil ainda querer iniciá-la. Quando não sabemos o que verdadeiramente é importante para nós, é comum apenas seguir o que os outros dizem e fazem. Ser um seguidor pode ser cômodo e até mesmo fácil, mas não promove felicidade.

– Comece a exercitar o saudável hábito de “entrevistar” e de questionar a você mesmo. Seja o seu grande crítico, o seu próprio “chato” particular. Não se contente com menos, queira o melhor para você, o mais gostoso, o mais bonito, o mais saudável, o mais alegre. Faça por você o que você faria para o seu melhor amigo. Seja o seu melhor amigo.

– Uma vez que você tenha descoberto o que realmente ama e deseja, vá a luta! Busque, aprofunde-se, conheça! Pode ser um ofício, um talento, uma habilidade manual, um lugar, uma pessoa, qualquer coisa. Lembre-se de que a única coisa irrecuperável na vida é o tempo! Não desperdice o seu, então, com aquilo que não é de verdade importante para você e para a sua felicidade.

– Tenha em mente que a felicidade não pode ser encarada como uma experiência momentânea, como um estado a ser desencadeado por “aquele” momento de clímax na história da sua vida. Se você enveredar pela busca fortuita da felicidade, você encontrará alegria mas perderá a oportunidade de conhecer. Porque o conhecimento exige dedicação, e quando nos dedicamos a alguma coisa – incluindo nós mesmos – inevitavelmente descobrimos que ela não é perfeita, no sentido de não ter problemas, limitações, etc. Do ponto de vista psicológico, a perfeição é a inteireza das coisas e não a ausência de falhas. Quando amamos algo, amamos sua totalidade, mesmo não gostando de algumas partes. O bom conhecedor sabe disso! Sabe que para conhecer é necessário abrir-se para as infinitas possibilidades da experiência, sejam estas boas ou ruins… O Éden ou a vida terrena. É por isso que o Gosto Pela Aprendizagem é uma força pessoal essencial para a felicidade, porque tal força nos mobiliza a cultivar o interesse por aquilo que nos propomos a conhecer.






Psicóloga, Mestre e Doutoranda pela USP (SP). Especializada em Desenvolvimento de adultos, na experiência de Felicidade e nos estudos da Psicologia Social.