O que (NÃO) fazer quando a criança não respeita a autoridade

Quando surgem os conflitos entre pais e filhos ou entre educadores e enteados nas novas famílias modernas, as primeiras reações podem ser determinantes e as primeiras intervenções decisivas. Alcina Rosa, psicóloga clínica, habituada a lidar com casos de pais que têm dificuldade em lidar com filhos pouco obedientes, ajuda a enfrentar o problema e a aprender a lidar com os primeiros sinais de alarme. Saiba o que (não) deve fazer.

O que é que se deve fazer quando a criança não respeita a autoridade? 

É necessário dialogar e tentar perceber se esse desajuste só ocorre com alguém em particular ou com outras figuras de autoridade. Na casa do outro progenitor, na escola… E, dependente daquilo que for identificado, deve-se perceber quem é o dono do problema e se a questão pode ser resolvida no seio da família ou se se deve procurar ajuda especializada. Neste caso, é recomendável aos pais fazerem uma primeira consulta sem as crianças e só depois acompanhá-las numa sessão posterior.

Estes problemas nascem exclusivamente no seio das novas famílias ou também tendem a manifestar-se nas mais tradicionais?

Não. Muitas vezes, os problemas estão relacionados com o próprio processo da separação dos pais biológicos. Como isso acontece, na maior parte dos casos, numa fase desgastada, negativa, esses reflexos podem passar para as crianças. No fundo, são fases que desafiam o equilíbrio emocional.

No caso dos mais pequenos, esse reflexo pode manifestar-se através de uma elevada imaturidade e comportamentos agressivos e desafiadores para com todas as figuras de autoridade, dentro e fora de casa, sendo o grande objetivo chamar a atenção. A personalidade da mãe e do pai são fatores decisivos na adaptação a esta nova situação e a estabilidade é essencial. Mas existem, felizmente, muitos casos de sucesso.

Quando o conflito se instala, que atitudes costumam os padrastos e as madrastas adotar que são um erro?

O excesso de autoritarismo, a manipulação (recorrendo a frases como «Se fizeres isto dou-te aquilo»), a negação (comparar o comportamento da criança com o de outra pessoa), evidenciar a ingratidão ou a permissividade. É, também, frequente que alguns padrastos e madrastas se demitam da responsabilidade da criança e deleguem tudo na mãe ou no pai. Este comportamento atribui à criança um excesso de poder e características de personalidade fixas.

Quais são os sinais de alarme a que os pais e educadores devem estar atentos e que podem evidenciar algum desconforto com os novos relacionamentos dos pais?

Se a criança evidenciar um comportamento nervoso, birrento e choramingas, ou, já na fase da pré e adolescência, alterações comportamentais na escola, isolar-se ou apresentar distúrbios alimentares, algo não está bem. Nessas situações, é essencial questionar o porquê desse cenário, nunca ignorar o óbvio e abordar diretamente o enteado sobre o tema de forma objetiva.

Só ao enfrentar essas situações se encontra uma solução e tal pode passar por uma mudança de uma das partes ou de ambas. Fundamentalmente, temos de tentar perceber se a criança está bem com as pessoas que a rodeiam e com o ambiente em que vive.

Texto: Carlos Eugénio Augusto com Mário Cordeiro (médico pediatra)

Fonte: Sapo





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