A orientação necrófila: degeneração da vida e fascínio pela morte

Vou adequar os conceitos do psicanalista Erich Fromm sobre a orientação necrófila, para analisar o conteúdo virtual, que expõe o fascínio pela morte e pela degeneração de tudo que é vivo e se torna cadavérico na sociedade contemporânea. As redes sociais permitem que as pessoas de orientação necrófila postem o amor pelos mortos, numa extrema manifestação da perversão sexual. As imagens são de êxtases por cadáveres, sangue, defuntos em apodrecimento, moribundos, suicídios e dejetos ligados à morte.

 

Os necrófilos no cotidiano, por força do princípio da realidade, são impedidos de manifestar seu desejo pela morte, mas aproveitam a internet para comentar as mortes causadas pela brutalidade humana, por acidentes e doenças. Assim, preenchem-se de alegria quando podem falar desses assuntos. A orientação necrófila é deslumbrada pela escuridão e pela noite. Os necrófilos adoram filmar e tirar fotos de lugares sombrios, pois a vida tem que ser convertida em morte. Esse caráter retroalimenta a produção necrófila das notícias, dos filmes, das músicas, da web e dos discursos de ódio.

 

Para o caráter necrófilo existem apenas dois sexos: os fortes e os fracos, os matadores e os mortos. Os necrófilos adoram assistir pessoas em situações sexuais de sadismo, masoquismo ou degradantes, que podem conduzir a morte. Os necrófilos adoram tudo que é mecânico. Um exemplo: é o jogo da Baleia Azul, que gerou mais de cem casos de suicídios de adolescentes pelo mundo, as fotos desses flagelos são compartilhadas nas redes sociais.

As criaturas necrófilos vivem no passado. Suas emoções são de um sentimentalismo vulgar, ou seja, lembram de fatos ou de notícias macabras. Ao ponto de criar sites, revistas e jornais que mostram as faces da morte na violência urbana, nas guerras, nos acidentes, nos genocídios e nas ditaduras sanguinárias.

Eles são pernósticos e defendem que a solução política para os problemas sociais: dar bordoadas em manifestantes, matar delinquentes, discriminar imigrantes, massacrar sem-terra, expulsar sem-teto, e internar drogados em hospícios e aprisionar prostitutas. São admiradores de lideranças políticas e religiosas que pensam dessa forma.

 

Além disso, para os necrófilos há a disposição de matar ou morrer por aquilo que chamam por lei e ordem. Não é por acaso, que nas redes sociais e nos protestos os seus ídolos são generais e políticos truculentos. Mas as críticas a esse pensamento são vistas como um insulto aos valores da orientação necrófila.

É desagradável abordar esse tema, mas urge entender como funciona, hoje, as estruturas de morte, para justamente a assegurar a defesa da vida, pois história denunciou que o nazifascismo e o stalinismo produziram consequências funestas à humanidade. Freud, Einstein e o próprio Fromm já tinham antevistas as atrocidades que seriam cometidas pelas mentes necrófilas dos regimes totalitários.

Porém, Fromm tem uma análise radical contra a necrofilia, que é a biofilia, que traz na sua essência o amor pela vida. A pessoa biófila possui consciência de que somos plenamente humanos e sua presença no mundo faz muita diferença na conservação e na beleza da vida.

Imagem de capa: Shutterstock/Danko Mykola






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista