Punição funciona?

Para começar, todo evento aversivo ou estímulo punitivo é aquele apresentado imediatamente após um determinado comportamento, fazendo com que esse reduza em frequência.  Uma vez que esse evento funciona como evento punitivo para um comportamento de uma pessoa em uma determinada situação, ele pode ser usado para reduzir outros comportamentos desse indivíduo em outras situações.

E dessa mesma forma entendemos o conceito de punição: é a apresentação de uma consequência  aversiva ou retirada de um reforço positivo após ocorrência de determinado comportamento, fazendo com que a probabilidade de sua ocorrência diminua em situações futuras. Quando apresentamos um estímulo aversivo, estamos falando de punição positiva (P+), como exemplo, um aluno que conversa muito em sala de aula e leva uma bronca na frente da sala, ou então, podemos retirar um reforço positivo, como deixar esse aluno sem intervalo após comportamento transgressor.

Assim como o princípio do reforçamento positivo, a punição afeta nossa aprendizagem, pois dessa forma aprendemos a não nos comportarmos de tal forma em determinada situação, nos ensina algumas regras, mas também há algumas controvérsias a respeito da utilização da punição.

Em nossa vida estamos sujeitos a vários tipos de punição, como punição física (estímulos que provocam sensações de desconforto como surras, choques, etc), repreensões (estímulos verbais negativos como “não”), timeouts (transferência da pessoa de uma situação mais reforçadora para outra menos reforçadora, assim, menor chance de ter acesso a reforçadores positivos), custo de resposta (remoção de uma quantidade específica de reforço imediatamente após um determinado comportamento, sem ter alteração do contexto).

Como utilizar a punição para que tenha mais eficácia?

Uma grande diferença no efeito da punição, assim como também no conceito de reforçamento positivo, é que muitas vezes  é aplicada de forma inconsistente pelas pessoas.

A punição pode ser aplicada diretamente, quando vem imediatamente após o comportamento transgressor e tem maior probabilidade de ter eficácia para reduzir esse comportamento do que um que é apresentado de maneira atrasada após ocorrência do comportamento, ou seja, de forma indireta. Um problema em relação a isso também se refere a nossa aprendizagem.

Uma criança que faz uma travessura de manhã e é consequência no outro dia, pode não entender porque está sendo punida, qual comportamento produziu a punição e mesmo se fizer essa discriminação, o evento punitivo torna-se menos aversivo. Um outro exemplo é recebermos multa pelo correio duas semanas depois de termos sido detectados pelo radar por andar em alta velocidade. Mesmo que prestemos mais atenção e reduzimos esse comportamento, o estímulo aversivo (multa) tem efeito sobre o comportamento devido a instruções sobre o mesmo que produziu a punição ou aos nossos próprios pensamentos, do que relacionado ao princípio da punição.

Uma outra dica para reduzir a resposta indesejada com maior eficácia é aumentar simultaneamente a resposta alternativa desejada e para isso devemos identificar um estímulo poderoso que controle o comportamento da pessoa. Mais importante do que punir alguém por algum comportamento indesejado, é mostrar-lhe o comportamento desejado alternativo, apresentando até mesmo um reforço positivo para isso. Por exemplo, você pune a criança por comer muito doce e se recusar a fazer as refeições, uma alternativa de aumentar a chance dela fazer as refeições é apresentar uma quantia pequena de doce após ela almoçar.

Para que a pessoa que está aplicando o programa de punição tenha mais sucesso, também deve minimizar as causas do comportamento indesejado, ou seja, deve identificar os estímulos que controlam esse comportamento e também se há a presença de reforçadores positivos que estão mantendo o comportamento que deseja extinguir. Segundo Todorov (2001), não pode haver fuga possível do estímulo aversivo. Por exemplo, pode ser que o filho goste de ficar de castigo dentro do quarto por ter videogame e ficar jogando.

Assim, para que o programa de punição funcione, devemos pensar se o estímulo punitivo tem função (se é eficaz) para o indivíduo, sua intensidade, se é contingente (imediato) ao comportamento indesejado, sua durabilidade (deve ser temporário e depois a condição removida deve voltar a estar presente), deve ser firme (manter o que se disse, fazer o que se propôs). Um erro comum é ameaçar, começar a aplicar o conceito, mas depois agir de forma contrária, como uma mãe que tira um brinquedo de um filho, mas por ele começar a chorar, devolve logo em seguida.

Para isso, devemos estabelecer qual comportamento específico deseja reduzir/excluir e não uma classe geral de comportamentos , por exemplo, dentro da categoria de comportar-se mal dentro de sala de aula, estabelecer a diminuição de falar durante a explicação do professor.

Efeitos Colaterais da Punição

Muito tem-se discutido sobre os efeitos da punição e sua eficácia, por efeitos colaterais que gera na pessoa punida, como comportamentos agressivos, efeitos colaterais emocionais, pode fazer com que a pessoa só se comporte sob padrão de fuga/esquiva diante de situações semelhantes na qual ela foi punida, passando a associar a situação aversiva e pessoas presentes dela a outras situações semelhantes, que se tornam condicionados. Por exemplo, se você está ensinando uma criança a ler e a pune quando cometer erro, ela pode ver como aversivo qualquer situação que presenciar palavras expressas, livros..

Também podem funcionar como modelo de punição, por exemplo, crianças que observam seus pais aplicando punição estão propensas a fazer o mesmo com os outros.  E o mais válido de se pensar, a punição também não ensina nenhum comportamento novo, apenas suprime o comportamento antigo.

REFERÊNCIAS

MARTIN, Garry; PEAR, Joseph. Modificação de comportamento, O que é e como fazer. 8º edição. Editora gen, 2009.

TODOROV, João Claudio. Quem tem medo de punição. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452001000100004>. Acesso em: 05 set. 2017.

Imagem de capa: Shutterstock/PKpix

 






Psicóloga formada pela Puc-Campinas e em terapia por contingências de reforçamento (TCR) pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (ITCR), aonde curso especialização. Procuro sempre me aperfeiçoar nas áreas de interesse, estando por dentro das novidades da análise do comportamento no contexto da clínica, psicologia hospitalar, orientação vocacional, psicologia escolar. Fiz aprimoramento em ABA para autistas e além de atuar no contexto da clínica, faço treinamento em serviço na UNICAMP, aonde atendo muitos casos de transtornos mentais. Sempre me interessei muito por textos que abordam assuntos psicológicos, sentimentos, personalidade, relacionamentos e sempre gostei muito de escrever temas psicológicos e acredito que escrevendo também se aprende, por isso tento criar novos conteúdos em relação ao que aprendo e compartilhar conhecimentos. Sou bastante curiosa, proativa, organizada e determinada. Espero ser uma forma de crescimento e que os conteúdos possam ajudar a todos.