Quando os padrões de exigências dos pais adoecem seus filhos

Por Laila Wahab- psicóloga cognitiva

Quem não gostaria de ser um pai perfeito, um marido perfeito, um profissional perfeito? A grande maioria dos pais certamente responderia que sim a indagação. Em se tratando de filhos, sabemos que a melhor educação engloba o apoio que nossos filhos precisam para se tornarem adultos saudáveis, confiantes e autônomos, capazes de tomarem suas próprias decisões frente às adversidades. Por isso, é comum na infância os pais cobrarem boas notas e bom comportamento no colégio.

Cuidar e educar uma criança não é uma tarefa das mais fáceis, é antes um desafio, onde muitos adoram opinar. Normalmente pais sofrem pressão de amigos, escola e familiares quanto a forma de educarem seus filhos.

Estimular o aprendizado com apoio, auxílio, presença é imprescindível, mas quando essa cobrança passa a ser excessiva, é de se esperar que problemas surjam ainda na infância.

Alguns pais, perdem a medida e acabam exigindo de seus filhos um desempenho próximo à perfeição. Exigem esforço extremo, mais visível em ambiente escolar onde a busca se traduz em excelência por notas, não aceitando muitas das vezes nenhum erro. Estes filhos, por sua vez, quando não atingem metas estabelecidas por seus pais, são castigados ou privados de algo que pudesse lhes trazer gratificação.

Em algumas crianças, não resilientes, há uma possibilidade bem grande de que nasça a crença de tirar boas notas é o caminho para o afeto de seus pais. A criança internaliza isso como verdade e condiciona seu desempenho escolar com o relacionamento com seus pais, ou um dos pais, quando não são os dois que manifestam o padrão inflexível, rígido de cobrança por alto desempenho ou perfeição. Ocorre que nem sempre a criança conseguirá atender as expectativas ou a nota esperada, por seus pais. Há uma grande probabilidade de que apareça na criança pressionada, a angustia e dela a crença de ser errada, falha. Minimizando seu esforço ainda que a nota esteja na média. O sentimento de culpa por não atingir o ideal criado por seus pais e portanto não merecedora de amor.

É importante que se diga, ainda que de forma mais incomum, há possibilidade de crianças apresentarem espontaneamente resultados acima do esperado, comparado com crianças da sua idade, ou até mais velhos. Podem ser resultado de superdotação, estes quando existentes aparecem em idade precoce.

Quando a tendência a padrões de perfeição ou o perfeccionismo aparecer mais tarde na infância, podemos estar diante de uma situação decorrente de excesso de cobranças por seus pais.

Há também um problema que pode surgir no comportamento infantil diante de pais hiper demandantes, punitivos ou exigentes, a necessidade dessa criança de se autopunir. Não se acha boa suficientemente para atender as necessidades de seus pais. Pode criar em si a falsa ideia de que merece ser punida diante do erro. Filhos de pais alcoólatras, tem propensão a não aceitarem erros, de serem exigentes e punitivos com relação a seus filhos e com eles mesmos. Não admitem fraquezas ou falhas. Podem ser hiper responsivos, excessivamente responsáveis.

Uma educação exigente em demasia, tende a gerar atitudes reativas por parte dos filhos, como por exemplo: além das crenças de rejeição, desvalia e inadequação, o desenvolvimento de doenças psicossomáticas, a necessidade de se machucar ou se cortar, traumas, medos, sentimentos limitantes de incapacidade, extremamente prejudiciais, cujos efeitos nefastos aparecerão com mais evidência em algumas ou nas demais fases do desenvolvimento desta criança, acompanhando-a em sua adultidade. É importante também lembrar que cada criança tem um modo particular de reagir ao padrão super exigente de um de seus pais ou de ambos.

No âmbito escolar, estas crianças podem manifestar desajustes em decorrência das crenças que passam a ter de si mesmas, tidas como verdades. Por exemplo: dificuldade no desenvolvimento da aprendizagem,  ou dificuldade para reter conteúdos estudados, não se esforça por bons resultados nas provas; esquece de fazer os trabalhos dentre outras. Todas essas atitudes ao final culminarão em notas baixas. Confirmando para si a crença de menos valia que a partir do alto grau de exigências de seus pais passa a ter como verdades sobre si. Fragilizando sua autoestima e impedindo um bom rendimento escolar.

Além da auto sabotagem em relação às notas.  Diante da rejeição o aprofundamento na tristeza, pode culminar em depressão, e/ou em comportamentos de rebeldia, de prejuízo mútuo, prejudicando os pais, não lhes dando a nota que desejam.

A reeducação familiar neste caso é importantíssima, imprescindível a participação dos pais em orientações e aconselhamentos na escola, bem como sessões de psicoterapia, envolvendo o filho e os pais em conjunto e separadamente. Há que se compreender, o que é excesso e o que seja motivacional, assim o que é válido e cabível para aquela criança em questão, no caso o filho desses pais tão exigentes. Lembrando que cada caso é diferente do outro, cada um tem seu próprio tempo e ritmo. Conhecer o funcionamento da família é essencial para uma boa compreensão do todo.

Quando a criança ou adolescente consegue escapar das armadilhas mentais, percebe seu potencial e assim toma atitudes saudáveis em direção às suas potencialidades. O processo de mudança para melhorar seu desempenho, flui naturalmente, ele adquire mais confiança em si mesmo e percebe isso através dos resultados mais positivos.