Reflexões sobre a era do Facebook

Estamos mais conectados do que nunca, a velocidade na comunicação e na troca de informações está cada vez mais rápida. Para conversar com alguém do outro lado do mundo basta abrir um aplicativo de chat (whatsapp, Skype, Messenger) e em segundos o seu texto ou voz são transmitidos.

Além da facilidade de nos comunicarmos diretamente com quem está longe, também temos hoje o Facebook, a rede social. Através dela você pode ter um perfil pessoal e dividir suas fotos e pensamentos, participar de grupos, curtir páginas, jogar, conversar com pessoas através da ferramenta de chat, dentre outras possibilidades que abrange também o meio profissional, como vendas e divulgação através de anúncios. Tudo isso em um site só.

Na era da informação somos postos, a todo o momento, diante de diversas imagens e informações, seja em propagandas, em fotos, opiniões diversas e comentários. E para além da quantidade de informações, é importante falar da velocidade com que elas se apresentam e mudam de um instante para outro diante de um rolar da página.

Para além do discurso do bom ou ruim, as ferramentas que permitem nossa imersão no ciberespaço (a internet) estão tendo cada vez mais um espaço maior em nosso cotidiano. Diante disso se faz importante um olhar atento para os novos fenômenos psíquicos que surgem nesse novo cenário.

A internet é uma ferramenta muito nova comparada à história da modernidade. No Brasil, por exemplo, surgiu por volta dos anos 90 e de lá pra cá temos menos de 30 anos de familiaridade com o espaço virtual através de nossos computadores pessoais. Além disso, de uns anos para cá, fomos apresentados aos smartphones, responsáveis por aproximar ainda mais o homem da rede. Hoje, se você quiser acompanhar todas as novas informações que circulam na rede deve checar a todo o momento páginas como o Facebook ou canais de notícias.

Criamos um novo tipo de relação com a tela e diante dessa nova configuração de comunicação e exposição se faz necessário também uma nova postura para nos adaptarmos a essas novidades. Esse espaço cibernético existente tem tanta força quanto à “vida real”.

Um ponto importante de se notar e que tem influencia na saúde psíquica é a diferença entre o meio vivenciado pelas sensações corporais, a vida real e este outro lugar, o virtual. Carlos Bernardi em seu texto O Livro das Faces. Individuação no Tempo dos Ciborgues. Aponta para a seguinte diferenciação:

Esta atualização é “criação de uma forma”, enquanto a virtualização é uma

dinâmica, uma “elevação à potência” que gera um campo problemático,

desprendido do aqui e agora, não-presente, mas “repleto de paixões e de

projetos”, a virtualização desterritorializa e abala as relações entre o privado e o público, o próprio e o comum, o subjetivo e o objetivo. (BERNARDI, 2015)

 

Ou seja, no momento em que temos somente o corpo como mediador do que nos pertence e do que é do outro, a separação física é nítida pelo limite que o próprio corpo humano tem. Quando nos colocamos a frente desse espaço onde palavras, fotos e vídeos nos expõem, outro tipo de limite precisa ser colocado porque o corpo já não tem interferência mais nessa mediação do público e privado.

Torna-se importante diante desse apontamento, entendermos como está nossa reflexão acerca de sonhos, potencialidades, crenças e desejos. As particularidades que cada um tem podem ser facilmente deslocadas nesse meio onde as separações são permeáveis. O sonho de um pode passar a ser o do outro, o desejo de consumo de um pode servir para ser do outro facilmente, em uma fração de segundos. Nesse sentido, as imagens apresentadas tornam-se projeções virtuais que podem facilmente ser ilusórias e vazias caso não se tenha um olhar de volta para si.

Um equilíbrio entre o real e o virtual se faz necessário. Se essas imagens informativas da esfera virtual não forem elaboradas no plano subjetivo com um olhar crítico elas se tornarão promessas. E promessas podem facilmente causar frustrações caso não sejam cumpridas.

Outro ponto de atenção é o prazer que o meio virtual pode trazer, pois para alguns pode ser mais relevantes que os ganhos da vida real fazendo com que a pessoa volte a sua energia inteiramente para a vida virtual, deixando de lado a vivência corporal e física do real. Quando esse fenômeno ocorre, a dependência pode ser facilmente instalada levando a um vício em redes sociais, whatsapp ou jogos.  

Um olhar para essa nova configuração de relacionamento torna-se importante para equilibrarmos nossa relação com o outro, seja este um ser humano ou o meio virtual. A diferenciação entre os desejos pessoais e os do outro é essencial para manter o equilíbrio psíquico, pois quando se está seguro do que pertence a si, sentimentos como a ansiedade ou a frustração gerados pelas informações da internet poderão ser compreendidos com mais facilidade trazendo assim, maior alivio e bem estar.

Bibliografia

BERNARDI, C. O Livro das Faces. Individuação no Tempo dos Ciborgues. 2015.






Camila Figueiredo é psicóloga (CRP 05/45804) especialista em psicologia junguiana pela UNESA - curso coordenado pelo Instituto Junguiano do Rio de Janeiro (IJRJ). Atua como psicóloga clínica com experiência em psicoterapia individual a crianças, adolescentes e adultos. Trabalha também como psicóloga escolar no Instituto Sri Sathya Sai de Educação e é sócia do Espaço Almar, lugar onde se faz a troca de conteúdos relacionados à psicologia como cursos, workshops, palestras e exposições no Rio de Janeiro.