DESTAQUES PSICOLOGIAS DO BRASIL

As marcas que uma criança tratada com violência carrega para a vida adulta

“Apanhei dos meus pais e não levo nenhum trauma.”, diz confiante a moça que não gosta de multidões e tem dificuldades para interagir.

“Apanhar na infância fez parte do meu crescimento pessoal”, afirma a mulher que admite ter se envolvido em relacionamentos abusivos durante toda a sua vida.

“Apanhava uma vez só e aprendia a lição.”, relata o homem casado que aprendeu a mentir para evitar as responsabilidades e mente compulsivamente sobre coisas banais, destruindo a confiança que deve haver entre o casal.

“Umas palmadinhas moldam o caráter” , expressa o jovem executivo que sofre de crises de pânico antes de reuniões, para as quais ele precisa estar medicado para participar.

“Apanhei dos meus pais e não tenho nenhuma mágoa.”, diz a pessoa que hoje não sabe expressar seu descontentamento, que não consegue falar sobre seus sentimentos, e aceita até o inaceitável de familiares e amigos porque não consegue entrar em um debate saudável e nem defender sua própria opinião.

“Apanhei dos meus responsáveis e sou grato a eles.”, conta a pessoa que desconfia de tudo e de todos, que acredita que sempre estão falando mal ou conspirando contra ela, que sente que o azar está sempre à espreita.

“Apanhei e me tornei uma boa pessoa.”, diz com orgulho a boa pessoa que acredita que não merece coisas boas e se auto boicota sem perceber.

“Apanhei dos meus pais na infância e estou bem!”, dizem todos que defendem que crianças são os únicos seres vivos que merecem apanhar para aprender, sem perceber que perpetuar o ciclo da violência é um dos principais sinais de que não se está nada bem

“Ahhh… Mas quer dizer que todo problema que a pessoa tiver terá sido porque ela apanhou?”

Não. Claro que não, diminua os batimentos cardíacos e termine a leitura. Sempre existem as exceções.

Ser educado com violência e agressividade durante a infância pode deixar marcas que são levadas para a vida adulta, resultando em padrões de comportamento que causam danos na vida profissional e afetiva da pessoa.

Quando uma pessoa apanha na infância, rompe-se o elo da entrega e da confiança. Dor e confusão se misturam em uma compreensão distorcida do que é amor. Não significa que a pessoa, necessariamente, vai refletir isso na relação com os pais (às vezes sim), na maioria das vezes ela irá refletir isso em sua relação com outras pessoas e com a própria vida.

A criança que apanha não deixa de confiar em seus pais, deixa de confiar em si mesma. Ela passa a acreditar que não merece ser amada.

Entender o que uma educação violenta pode causar não se trata de ingratidão, seus pais fizeram o melhor que podiam com aquilo que era possível na época deles. Perceber que educar e bater não combinam não se trata de encontrar culpados, na verdade, se trata de auto responsabilização, se trata de escolher conscientemente o que fazer com aquilo que te fizeram.

***
Texto adaptado por Destaques Psicologias do Brasil do original de Luzinete R. C. Carvalho, publicado em Papo de Pai.
Fotos: Reprodução.

DESTAQUES PSICOLOGIAS DO BRASIL

Uma seleção das notícias relacionadas ao universo da Psicologia e Comportamento Humano.

Recent Posts

Demorou dois anos pra estrear — e bastou uma semana na Netflix pra virar sensação nacional

Com roteiro baseado em um sucesso do Wattpad e fãs esperando há tempos, Através da…

4 dias ago

Essa produção da Netflix tem menos de 90 minutos — e vai bagunçar sua cabeça por dias

Charlie Kaufman não faz filmes para assistir no piloto‑automático. Em Estou Pensando em Acabar com Tudo…

4 dias ago

Parece só mais um drama comum… até você perceber que está emocionalmente destruída no último episódio (imperdível)

Tem filmes que não precisam gritar para esmagar seu emocional. Pieces of a Woman, disponível…

4 dias ago

Estado psicológico de um time: você precisa checá-lo antes de uma aposta?

Nas apostas esportivas, o acesso a estatísticas e a interpretação de estatísticas nunca foi tão…

1 semana ago

Nova série sobre Bolaños expõe que o criador de Chaves “não era um santo”, diz diretor

Quando uma biografia televisiva chega, ela mexe em memórias afetivas e também em gavetas que…

2 semanas ago

Desviar o olhar é mentira, vergonha ou timidez? Psicólogos revelam o que isso indica

Alguns segundos de silêncio acompanhados de olhos que escapam para a lateral podem mudar o…

2 semanas ago