Marcel Camargo

Depressão não é meio de vida, bipolaridade não é frescura, ansiedade não é falta do que fazer

Existe certa dificuldade de se aceitarem as chamadas “doenças da alma”, uma vez que seus sintomas muitas vezes não são visíveis fisicamente. Estamos tão acostumados a enxergar apenas o que pode ser visto, que tudo aquilo que os olhos não veem cerca-se de hesitações. Materialistas que somos, amantes das aparências, tendemos a neutralizar o que requer profundidade e sentimento.

Nesse contexto, pode-se dizer que há um certo preconceito em relação a estados de espírito, pois, caso não existam sintomas visíveis, a doença existe como? E é assim que muitas pessoas reagem mal ao se depararem com doenças e/ou transtornos mentais, não os aceitando, inclusive desdenhando de quem padece desses males. Afinal, vendo a pessoa, ali na frente, sem manchas pelo corpo, sem febre, aparentemente normal, a muitos não ocorre perceber que há um mundo dentro de cada um de nós.

Possivelmente, somente quem já passou por um quadro depressivo ou viu algum familiar assim pode dimensionar a dor que isso traz, tanto para quem sofre como para quem ama e convive com ele, da mesma forma ocorrendo com transtorno ansiedade generalizada e bipolaridade. Todos os envolvidos acabam atingidos de alguma forma, porque as cicatrizes são invisíveis e o pedido de socorro vem do fundo do olhar.

Se atentarmos para as características da sociedade de hoje, perceberemos que há um terreno propício para que o emocional se abale, haja vista a pouca importância dada ao que vem de dentro de cada um. A supervalorização das superficialidades, a superexposição de conquistas materiais, a busca desenfreada pela fama virtual, entre outros, caracterizam uma sociedade descuidada com o que os sentimentos possam dizer e, portanto, claramente suscetível a padecer de doenças emocionais.

A depressão é escuridão. A ansiedade é desespero. A bipolaridade é insegurança. E vice-versa. Enquanto os sentimentos não forem valorizados pela sociedade, as doenças da alma dificilmente serão encaradas socialmente com a urgência que se requer, como realmente deveria ser. Se o essencial é invisível aos olhos, as escuridões dolorosas de uma alma que sofre também o são. Entender isso é o mínimo a se fazer. Com urgência.

***

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

Recent Posts

A história real que inspirou este filme da Netflix é tão perturbadora que foi escondida por quase uma década

Esse filme revela detalhes de uma operação policial secreta tão absurda que parece ficção —…

1 hora ago

Um final que não sai da cabeça: o filme da Netflix que seguirá em seus pensamentos por mais alguns dias

Um dos filmes mais estranhos e comentados da Netflix… e o final é impossível de…

2 horas ago

A nova produção da Netflix que agrada tanto o público feminino quanto masculino e já virou fenômeno

Christian Bale, um caso macabro e um detalhe que muda tudo. Você precisa ver isso…

2 horas ago

Circula nas redes que idosos não pagam mais pedágio… mas a verdade é bem diferente do que parece

Nova lei sobre pedágios para idosos causa confusão no Brasil — e o detalhe escondido…

2 horas ago

Surto psicótico, internação e silêncio: o relato chocante de Lady Gaga que veio à tona agora

O desabafo mais duro de Lady Gaga: como um surto psicótico terminou em internação traumática…

1 dia ago

Remédio? Não na Suécia: país vira notícia ao indicar viagens como tratamento para exaustão

O mundo se entope de remédios… e a Suécia manda viajar: nova terapia mental intriga…

2 dias ago