Charlie Kaufman não faz filmes para assistir no piloto‑automático. Em Estou Pensando em Acabar com Tudo (2020), ele condensa 89 minutos de estranheza elegante, ruídos psicológicos e diálogos que soam normais até você notar que nada bate. Parece curto para tanto assunto, mas o resultado deixa a mente fritando muito depois dos créditos.
O ponto de partida engana: uma jovem (Jessie Buckley) pega estrada nevada com o namorado Jake (Jesse Plemons) para conhecer os sogros. A viagem é longa e cheia de silêncios esquisitos.
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Quando finalmente chegam à fazenda, a casa parece congelada no tempo — e os pais (Toni Collette e David Thewlis) trocam de idade entre uma cena e outra. Se o relógio marca 20 minutos de filme, a sanidade do espectador já balança.
Kaufman adapta o romance homônimo de Iain Reid, mas troca parte da trama por dispositivos visuais.
Quadros se repetem em ângulos diferentes, diálogos retornam com mínimas alterações e pequenos detalhes — um casaco, um quadro na parede, uma cicatriz — mudam sem qualquer alarde. O diretor quer que você se perca, e consegue.
A fotografia gelada de Łukasz Żal reforça a sensação de confinamento. Dentro do carro, a câmera fecha no rosto dos personagens, quase sufocando; na fazenda, corredores alongados lembram sonhos em que nunca se alcança a porta.
O design de som preenche com sussurros de vento e rangidos, sugerindo que algo está roendo as paredes, talvez por dentro da cabeça de Jake.
Jessie Buckley segura a narrativa com expressões que oscilam entre leve desconforto e puro pavor contido.
Ela narra pensamentos em primeira pessoa, mas até isso vira suspeito: as dúvidas dela podem ser reflexo de outra mente. Jesse Plemons, por sua vez, equilibra timidez doce e surtos de irritação, sugerindo que Jake guarda mais segredo do que quer admitir.
Curioso notar como 94 minutos parecem três horas e meia quando a lógica quebra a cada linha de diálogo. Ainda assim, a edição mantém ritmo firme, alternando a tensão da fazenda com cenas de um zelador solitário num colégio — conexão que só faz sentido nos minutos finais, e olhe lá.
Terminada a sessão, a vontade imediata é correr para fóruns em busca de teorias, depois apertar play outra vez para caçar pistas escondidas.
Assistir uma única vez raramente resolve. Considerando a duração enxuta, vale o replay — mesmo que isso signifique mais dias com a cabeça em looping.
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