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A crítica produtiva

Este texto foi escrito inspirado pelo método da Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg. Normalmente, o senso comum costuma dividir as críticas em construtivas e em destrutivas. Esta divisão deixa clara a existência de críticas que são ruidosas e podem destruir uma pessoa e, ainda, considera que uma crítica pode ser positiva e fazer ajustes no caminho trilhado pelo o outro.
De fato, ouvir uma crítica nunca é fácil. Podemos senti-la como um ataque geral ao nosso eu, aos nossos esforços sinceros de sermos bons. Porém, ao vermos uma pessoa querida agindo de maneira errada, prejudicando a si ou a um terceiro, nossa consciência moral parece nos dizer que devemos intervir.
Como realizar essa crítica positiva? Um primeiro passo é sermos sinceros conosco mesmo e nos perguntarmos: “por que quero fazer esta crítica?”. “Para ajudar o outro ou para satisfazer nosso ego, colocando-o em uma posição inferiorizada?” Caso a sua resposta seja a segunda ou esta seja sua predisposição inconsciente, nada mais justo do que esperar uma posição defensiva e agressiva contra si. Ou ainda, muitas vezes, nos sentimos impelidos a criticar alguém pelo simples fato de esta pessoa não fazer algo que nós queremos. A crítica assume uma perspectiva egoísta e, portanto, uma resposta agressiva será justa.
Caso a resposta seja a primeira das opções, deve saber que, mesmo assim, uma crítica é um ataque ao eu, irremediavelmente. Apesar da intenção sincera em ajudar, ela provoca, no mínimo, um incômodo em quem a ouve. Uma crítica representa sempre uma frustração para quem a recebe e, ainda, as pessoas tendem, geralmente, a repetir padrões de comportamento, portanto é provável que a crítica recebida não seja a primeira. Logo, a frustração será duplicada, pois será uma crítica a algo que a pessoa enfrenta durante toda sua vida. Portanto, quem se dispõe a tecer a crítica deve estar em sintonia a este sofrimento que a crítica representará.
A crítica, então, deve ser feita sem julgamentos. Para isto, basta lembrar que cada pessoa é única e com história singular e, assim, reage ao mundo de acordo com sua perspectiva. Ao taxarmos uma pessoa como isso ou aquilo, estamos usando nosso ponto de referência, ou seja, externo à pessoa. A crítica deve se referir a uma parte objetiva do comportamento, deste modo, evitando rótulos. Por exemplo: você percebe que um amigo está agindo de maneira displicente no trabalho, porém o termo displicente é um julgamento individual.

Ao oferecer uma crítica, devemos deixar esse termo conosco e buscar, objetivamente, o que você acha que ele poderia ter feito melhor, assim diria algo, como: “Você acha que poderia ter se esforçado mais para entregar o trabalho no prazo?” Desta maneira, você permite a abertura do diálogo e a busca pelo entendimento.
Um outro ponto passível de observação é quando a crítica refere-se a um comportamento que está te atingindo diretamente. A maneira aqui é parecida, com alguns ajustes. Se o comportamento do outro está o atingindo diretamente, chateando-o, ferindo-o e/ou deixando-o com raiva e/ou triste, significa que alguma necessidade ou desejo seu não está sendo contemplado. Então, é necessário perceber, de início, que o desejo e/ou necessidade é sua e não do outro.

No restante, seguimos o mesmo protocolo de buscar, de modo objetivo, o que no comportamento do outro o fere. Por exemplo: se você se sentiu diminuído quando conversou com um amigo, você pode falar algo, como: “Quando conversamos ontem, me senti diminuído, porque ao contar um problema meu, você pegou o celular e não me deu o feedback que eu esperava”. Assim, novamente, se abrirá a possibilidade do diálogo sobre a questão.

Roberto Melo

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