Ansiedade não é conto de fadas!

Por Avair Guilherme Amaral de Carvalho

Era uma vez, um Sr. Coelho que saiu de sua toca para se alimentar, avistou uma frondosa moita de capim (sim, coelhos comem capim!) e foi pulando alegremente na direção dela, quando percebeu que a moita deu uma leve balançadinha, parou para observar melhor, foi quando viu o rabo da Dona Onça saindo dela. Naquele momento Sr. Coelho estremeceu, começou a suar, seu coraçãozinho disparou, ficou difícil de respirar, sua garganta ficou seca, ele sentiu uma vontade enorme de fazer xixi e de fugir. Foi justamente o que ele fez, saiu correndo como um foguete e se escondeu novamente na toca.

Mas o quê esse coelhinho tem a ver com ansiedade? O fato é que a heróica Dona Ansiedade, vulgarmente associada a sentimentos negativos como impaciência, irritação e agonia, salvou o Sr. Coelho de virar o café da manhã da Dona Onça. Como? A ansiedade é um mecanismo de defesa do corpo que é disparado toda vez que experimentamos uma situação de risco iminente. Na proporção adequada, alerta-nos de algum perigo real e faz com que nos preparemos apropriadamente para uma prova ou uma entrevista importante.

Vamos alterar um pouquinho essa história? Ao ver a moita, o coelho imagina que existe uma onça escondida atrás dela, e começa a ter todas aquelas reações de medo e aflição, então ele foge desesperadamente e não quer mais sair da toca. Neste caso, a ansiedade foi mais intensa do que deveria, o coelho sofreu muito só por imaginar uma possibilidade, o perigo não era real e acabou ficando sem se alimentar. A ansiedade patológica é um sentimento negativo a respeito do futuro, a pessoa faz de tudo para evitar as situações que geram ansiedade ou, quando não existe uma situação específica, tenta aliviar a ansiedade através de compulsões como comer em demasia, comprar, roer as unhas, enrolar os cabelos, bater as pernas ou ficar apertando a tampinha da caneta por exemplo. A ansiedade patológica costuma também “paralisar” as ações da pessoa que enxerga as situações como muito pavorosas e acaba tendo um “branco” na hora da prova ou não conseguindo falar em público, por exemplo. Cansaço, insônia, dificuldade de memorização e medo exagerado, acabam por atrapalhar a vida social e profissional.

É muito importante consultar um psicólogo para descobrir o que está causando ansiedade, pois os quadros mais graves podem evoluir para transtorno de pânico, fobia social ou transtorno obsessivo-compulsivo. Se o sofrimento for grande, pode ser necessário associar medicamentos como parte do tratamento, neste caso, o psicólogo solicitará o acompanhamento de um psiquiatra. Esportes, Yoga, acupuntura, meditação, exercícios de respiração e caminhadas ajudam a aliviar os sintomas, mas somente através da psicoterapia a pessoa consegue descobrir os motivos da ansiedade, aprender a lidar com ela e usá-la a seu favor. Como assim? Não falei anteriormente que a ansiedade nos avisa dos perigos? Pois bem, ela pode ser uma pista importante de que algo na sua vida não vai bem e que precisa ser repensado e melhorado.

Avair Guilherme Amaral de Carvalho

Psicólogo Clínico graduado pela Universidade Federal de São Carlos.

Há 12 anos atua como psicoterapeuta de orientação Psicanalítica.

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