Por Fabrício Carpinejar
João foi assassinado covardemente. Nem na mais sanguinária ditadura testemunharíamos tal subtração de direitos e de liberdade: um cliente é arrastado de dentro do supermercado, por divergências no caixa, e é linchado até o seu fim.
O motivo: ele era negro. João era negro.
Quantos George Perry Floyd no Brasil morrem sem ter chance nenhuma de se defender, sem dar a sua versão, sem conseguir mostrar a identidade, sem poder pedir ajuda para a esposa que o acompanhava?
Não se tratou de uma lição, de um corretivo, mas ódio racial puro e gratuito. Antes de ser questionado, João recebeu a pena da morte.
O treinamento letal dos agentes se resumia a eliminar o problema. “Um a menos” – os agressores deviam ter comemorado, jamais reconhecendo que eles que são os bandidos.
Socos na cabeça, chutes no rosto, joelho no pescoço: golpes mesmo para ferir, machucar, matar.
E quem é aquela mulher próxima da cena registrando a execução, parada com a câmera do celular, achando tudo normal? É a representação máxima da banalidade diante da maior crueldade.
João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, conhecido como Beto, acabou espancado por um segurança e um policial militar na noite desta quinta-feira (19), no Carrefour, em Porto Alegre (RS), na véspera do Dia da Consciência Negra.
Nenhum homem branco enfrentaria esse risco. No máximo, conheceria o constrangimento de ser chamado a uma sala na loja para interrogatório.
E se não tivesse sido filmado?
Seria apenas mais uma vítima negra coberta por lençol branco, pelos punhos brancos, pela violência branca, pela impunidade branca.
Elza Soares já denunciava: “A carne mais barata do mercado é a carne negra, só cego não vê.”
Não venha com nota de pesar, não venha dizer que ele reagiu, não venha com homicídio culposo.
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