COLABORADORES

Como você define “pessoa difícil”?

Essa foi a pergunta de uma participante da conversa após a palestra “Nas trilhas da vida”.

– Ah, é a pessoa que não escuta seu ponto de vista, afirma o tempo todo que ela é quem está certa e os outros estão errados e aí a conversa não evolui.

– A pessoa que você acha difícil também pode achar você difícil, não é?

– Sim, claro. Ela pode achar que você é o cabeça-dura, que não cede aos argumentos que ela apresenta e se recusa a concordar com seus pontos de vista.

É o circuito da interação que torna as conversas difíceis. “O que eu faço influencia o que você faz e vice-versa”. A pessoa considerada difícil em um relacionamento pode ser vista como acessível em outro. “Quando eu conheci a ex-mulher do meu atual marido ela me avisou para tomar cuidado porque ele tinha um gênio horrível. Estamos juntos há dez anos e temos uma convivência ótima” – comentou uma participante.

“Já passei por períodos difíceis com meu filho e minha nora. Aí resolvi viver a minha vida e deixá-los viver a deles. Como adultos, eles são responsáveis pelas escolhas que fazem, mesmo que eu não concorde com algumas delas. Agora só dou minha opinião quando me pedem. E passamos a conversar sobre outras coisas, o que ficou muito melhor” – comentou outra.

“Meu filho é muito fechado, é difícil conversar com ele, nunca sei o que ele está realmente pensando ou sentindo. Mas, com a namorada, ele se abre!”. Quando perguntei como ela costuma abrir a conversa, disse que faz muitas perguntas para “tentar extrair dele alguma coisa”. No entanto, isso cria um clima de inquérito, que provavelmente o faz se sentir invadido, e, então, se fecha para se proteger. Como tentar outras possibilidades de conversa? O que pode observar sobre o modo como a namorada do filho descobre as vias de acesso?

Reavaliar nossa contribuição para as “conversas difíceis” é um bom instrumento para inspirar mudanças no circuito interativo. As pessoas que consideramos difíceis podem nos dar oportunidades de abrir novos caminhos de comunicação. Não adianta ficar esmurrando a parede, com queixas, reclamações e recriminações. “As pessoas difíceis são nossas professoras” – comentou um participante. Da mesma forma, problemas são oportunidades de criar recursos para agir e encontrar soluções. “Por isso, sou grata às dificuldades que encontro em minha vida, elas me fazem amadurecer” – disse outra participante, com mais de 80 anos.

Há alguns anos, fiz um curso na Universidade de Harvard: Como lidar com conversas difíceis. A curiosidade para entender como o outro vê o problema, a habilidade para perceber os sentimentos subjacentes e a disposição para criar uma “terceira história” a partir do entendimento recíproco foram alguns dos tópicos abordados. O livro escrito pelos três professores já está disponível no Brasil: Conversas difíceis, de Douglas Stone, Bruce Patton e Sheila Heen, da Elsevier Editora. Recomendo!

Imagem de capa: Shutterstock/Asier Romero

Maria Tereza Maldonado

É Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-RIO, onde lecionou no Departamento de Psicologia. É membro da ABRATEF (Associação Brasileira de Terapia Familiar). Tem mais de 40 livros publicados sobre relações familiares, desenvolvimento pessoal e construção da paz, com mais de um milhão de exemplares vendidos.

Recent Posts

Pessoas que sofrem depressão usam estas palavras com mais frequência

Um estudo publicado na revista científica Clinical Psychological Science revela que pode haver uma maneira…

20 horas ago

Regulamentação de jogos de azar no Brasil: como as novas leis afetam o mercado e os jogadores

Descubra por que o mercado brasileiro de jogos virtuais é tão popular, como ele está…

3 dias ago

Por que tantas pessoas interessantes estão solteiras?

Bom, para começo de conversa, sei que tem muita gente solteira por opção. Gente que…

4 dias ago

Casal de aposentados comprou 51 cruzeiros seguidos: “Mais barato que casa de repouso”

Marty e Jess Ansen trocaram a rotina de uma casa de repouso por um estilo…

5 dias ago

Atriz revela que não beijava namorado na frente da filha e explica o motivo

Carol Castro e Bruno Cabrerizo namoraram por dois anos e a relação chegou ao fim…

5 dias ago

Mãe oferece pagamento para quem quiser ser amigo de seu filho com síndrome de Down e é surpreendida

Ela postou em sua página no Facebook uma mensagem oferecendo US$ 80 (cerca de R$…

6 dias ago