A pele, o maior órgão do corpo humano, é responsável por uma série de funções relacionadas à sobrevivência, como a regulação térmica, controle do fluxo sanguíneo e proteção contra agentes do meio ambiente. Tão importante quanto ao controle do funcionamento do organismo, a pele exerce um papel crucial na regulação emocional, sendo lócus de manifestações de conflitos psicológicos.

Para compreendermos a relação entre pele e mente, é necessário considerarmos como se  desenvolve o corpo humano. Tanto a pele quanto o cérebro se originam da ectoderme, a camada mais externa das células embrionárias, o que gera uma complexa interação entre os sistemas neuroendócrino e imunológico.

A psicodermatologia é uma especialidade que estuda as interações entre a mente, em especial as emoções, e a pele. As dermatoses psicossomáticas (também denominadas como doenças psicodermatológicas) podem ser causadas por disturbios psiquiátricos, nos quais as doenças dermatológicas são autoinduzidas, como a dermatite artefata, tricotilomania e distúrbio dismórfico corporal. Podem também desencadear distúrbios psiquiátricos de forma secundária, pela mudança estética produzida a partir da dermatose, como ocorre com a vitiligo, alopecia aerata, entre outros; ou ainda apresentar, dentre várias outras causas, uma relação com estados emocionais, como ocorre com a psoríase, dermatite atópica, acne, formas crônicas de urticária e a hiperidrose.

Como limite entre o eu e o ambiente externo, a pele participa do processo de desenvolvimento da individuação, auto-imagem e autoconfiança, fatores que influenciam fortemente nas relações interpessoais e nas interpreções das experiências pessoais. Dessa forma, as experiências do indivíduo na primeira infância podem ser fatores de risco ou proteção para o aparecimento de dermatoses psicossomáticas de acordo com a qualidade da relação mãe-bebê.

Pacientes com dermatoses costumam vivenciar situações de discriminação social, que levam a sentimentos de inadequação, vergonha, distorção da imagem corporal e baixa autoestima. Tais vivências podem gerar certo retraimento do indivíduo e aumento do nível de estresse, que  por sua vez, tendem a resultar na piora do diagnóstico.  O impacto psicossocial depende dos fatores de vulnerabilidade do indivíduo, relacionados com características demográficas, traços de personalidade e o significado da doença pela família e comunidade.

Quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento dessas doenças, melhor o seu prognóstico. É de extrema importância, nesse contexto, compreender as dermatoses não apenas como uma reação orgânica, mas como uma representação psíquica formada a partir da história de vida dos indivíduos.O tratamento psicológico, associado ao médico, é essencial para a melhora do quadro clínico e para auxiliar os pacientes a lidar com a sua condição médica, de modo a evitar situações de retraumatização, tão comuns na vida dessas pessoas.

Maíra Mendes dos Santos

Psicóloga, coach, master practitioner em PNL, especialista em psicopatologia clínica, mestre em ciências, doutora em saúde coletiva e sócia-proprietária da Onmental Espaço Terapêutico

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