COMPORTAMENTO

Não confunda meu silêncio com solidão

Em tempos de verborragias, muitas vezes vazias e grosseiras, haja vista as redes sociais impregnadas de vozes preconceituosas, violentas e intolerantes, silenciar é tido, muitas vezes, como algo negativo, como se fôssemos obrigados a ter de gritar nossas convicções por aí, a quem quer que seja. Nesse contexto, parece que não se pode, em hipótese alguma, fazer uso do silêncio, o qual somente julgam revelar o quão solitária é a pessoa.

A cultura do status, numa sociedade em que a fama acaba se atrelando a vidas glamorosas, a fotos de corpos malhados, camarões regados a champanhe, festas em iates e noitadas nos camarotes VIPs das baladas mais chiques, realça a necessidade de sair do anonimato. Aliás, para muitos, nada pior do que ser normal, anônimo, previsível. Há que se brilhar, pois o que vale é a quantidade de seguidores e de curtidas que a pessoa recebe. Silêncio não chama curtidas.

Por isso é que se torna comum a confusão entre a quietude e a solidão, uma vez que as pessoas mais introvertidas e reservadas parecem não se encaixar nessa sociedade do espetáculo. Se a pessoa diz que não possui perfil no face ou conta no twitter, todo mundo se espanta, como se estivesse em frente a um ser de outro mundo, e logo se levantam julgamentos acerca dessa pessoa, que passa a ser tachada, por muitos, como alguém solitário, antissocial e esquisito.

Na verdade, nem todo mundo gosta de se expor, nem todo mundo tem facilidade para conversar sobre qualquer coisa com qualquer um, nem todo mundo necessita de um milhão de amigos, porque simplesmente nem todo mundo pensa igual – felizmente. Ser quieto, introvertido e comedido não significa necessariamente ser sozinho, solitário, mas pode apenas se tratar de exigência, escolha, de não se contentar com qualquer um, com qualquer coisa.

Caso não esteja nos fazendo mal ou atrapalhando a nossa vida, mantermos o silêncio poderá nos ajudar a guardar nossos tesouros, para somente compartilharmos o nosso melhor com quem realmente merecer, com quem poderemos ser verdadeiros e transparentes, sem medo, sem termos de volta, distorcidamente, o que tivermos oferecido. Solidão, ao contrário do que muitos pensam, não tem a ver com a quantidade de pessoas que conhecemos, mas com o tanto de reciprocidade que faz parte de quem está junto de nós.

Imagem de capa: Pexels

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

Recent Posts

O que a Psicologia diz sobre pessoas que sempre ficam quietas para evitar conflitos?

O que leva alguém a se calar para evitar conflitos? Entenda o que a psicologia…

3 horas ago

O filmaço que soma mais de 265 milhões de horas asssistidas na Netflix

Este longa foi um fenômeno de audiência na Netflix, entrando para a lista dos 10…

4 horas ago

Psicologia de um Apostador Inteligente: O Que o Distingue da Multidão

No universo das apostas esportivas, é fácil imaginar que o sucesso depende apenas de acertar…

19 horas ago

Você sabe qual é o vegetal que estimula o colágeno e ajuda a combater a dor no joelho?

Ele é verde, fácil de encontrar e pode ser a chave para fortalecer suas articulações…

1 dia ago

Psicóloga analisa personagens de ‘Vale Tudo’ e revela o que a novela diz sobre nós

Com um olhar clínico, a psicóloga Tatiane analisa os principais personagens de Vale Tudo e…

1 dia ago

Pessoas com este traço de personalidade são mais propensas a insônia

Você sabia que certos traços da sua personalidade podem influenciar diretamente sua qualidade de sono?…

2 dias ago