O medo pode ser considerado uma das emoções mais negativas que um atleta pode experimentar, destruindo em alguns casos, a harmonia psíquica do indivíduo. O medo aumenta a produção de hormônios do estresse (adrenalina e cortisol). Essas substâncias causam uma série de reações fisiológicas imediatas, como tensionamento muscular, batimentos cardíacos e respiração acelerados e dilatação das pupilas e consequentemente em frações de segundos podem fazer com que atletas percam rendimento.
Pesquisas indicam que os atletas sentem diferentes tipos de medo: o medo de errar durante uma competição (frequente em ginastas e principalmente em competições de duração rápida); o medo de arriscar (por exemplo, uma jogada diferente e der errado); o medo de passar vergonha socialmente (se tornar motivo de piada no grupo e principalmente na mídia); o medo de se expor (algumas pessoas sentem pressão ao jogar fora de casa, ou na presença de familiares e amigos íntimos, também quando a competição será televisionada para milhões de expectadores).
A autoconfiança ajuda a controlar o medo, quanto maior se apresenta a autoconfiança de um atleta, menor é a sua ansiedade, insegurança e hostilidade, além de maior decisão, capacidade de arriscar e de autocontrole. Os grandes atletas controlam o seu medo, todos sentem, é inevitável. Após um grande feito é comum os atletas relatarem, além das glorias, o sentimento de alívio, de dever cumprido, da superação dos próprios limites.
Falamos um pouco até agora do medo que paralisa, e o medo que motiva? Presente nos esportes extremos, aqueles que os atletas ultrapassam as capacidades físicas e psicológicas. Exemplo: ultramatonistas, surfistas de ondas gigantes, wing walking (mover-se sobre as assas de um avião durante um vôo), heli-skiing (um helicóptero leva o esquiador até o topo inacessível de uma montanha. Sem pista, sem sinalização e sem conhecer o terreno, ele desce, esquiando),base jump, paraquedismo entre outros.
Penso que esses atletas podem ser “viciados em adrenalina, em sensações extremas”, ou seja, em realizar feitos sobre-humanos. Para os desavisados eles são “loucos, pessoas ensandecidas”, realmente se pensarmos racionalmente a linha é tênue entre o que separa a coragem do risco de morte aos olhos dos leigos. Mas, poucos sabem que esses atletas são muito disciplinados, possuem um alto grau de autocontrole, são extremamente detalhistas com a logística, respeitam a natureza mesmo diante de desafiá-la.
São experts não só na modalidade que praticam, mas também em tudo o que está relacionado a ela, todas as nuances que podem interferir de alguma maneira no desempenho (condições meteriológicas, segurança, equipamentos modernos que podem ser vantajosos, etc.). Atletas dessas modalidades são pessoas muito corajosas e estimuladas a grandes desafios. A coragem não é ausência de medo, mas sim o impulso de vencê-lo depois de senti-lo, respeitá-lo acima de tudo. É o que eles precisam para permanecer no controle da situação.
Segundo Seligman (1975):
“a imprevisibilidade de acontecimentos futuros tem um papel importante no surgimento do medo. A incerteza relacionada a uma situação de rendimento pode provocar medo. No esporte de competição, fica claro que, quanto mais bem estruturada estiver a situação de competição para o atleta, menor a possibilidade de aparecimento de reações de medo e estresse. Isto se obtém, fornecendo informações suficientes sobre os adversários, sobre a programação do evento, sobre a tarefa a ser desempenhada e sobre o que se deve esperar realisticamente da própria atuação. Para que estas informações sejam otimizadas, é necessário excluir excesso de informações e acentuar informações incompatíveis com o medo.”
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, comentou sobre uma entrevista com o surfista de ondas gigantes, Carlos Burle:
“Primeiro vêm os anos de preparo. Decidir surfar a onda gigante apesar do medo que ela inspira depende de uma sensação de controle da situação que só se conquista à força de muita técnica e prática.
Segundo, é preciso equilíbrio, tanto em cima da prancha quanto dentro da cabeça. Sem a capacidade de não se deixar dominar pela emoção, não há como vencer o medo e partir para o ataque.
Aqui a neurociência dá o seu pitaco: um estudo recente mostrou que a coragem não é a ausência do medo, e sim o controle que permite a ação apesar do medo. Isso é função de uma parte do córtex na parte da frente da cabeça, o córtex subgenual, que suprime a influência do medo sem reduzir sua percepção.
Dá para imaginar como os anos de treino, levando à sensação de capacidade e controle, ajudam a aumentar a coragem.”
2 elementos – ar e água
Meu profundo respeito e admiração a essas pessoas que dão assas a sua liberdade (às vezes literalmente), buscam ultrapassar os próprios limites e fazem com que possamos aprender e nos surpreender cada vez mais como a capacidade humana. Por isso também, o esporte é um fenômeno tão fascinante.
Referencias:
Machado, A. A. Psicologia do Esporte: da educação física escolar ao treinamento esportivo. São Paulo: Guanabara Koogan, 2006.
Roffé, M. Psicología del Jugador de Fútbol. Buenos Aires: Lugar Editorial S. A., 1999.
http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/08n2/Brochado.pdf – O Medo no Esporte, Monica M.V. Brochado
Tito Paes de Barros – Sem medo de ter medo: um guia prático para ajudar as pessoas com pânico, fobias, obsessões, compulsões e estresse – Ed. Casa do Psicólogo.
TEXTO ORIGINAL DE PSICOLOGIA NO ESPORTE
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