A busca incessante por uma turma, um lugar no mundo acontece, muitas vezes, pela necessidade de reconhecimento pessoal e através da construção da identidade. E, é na família onde se inicia este processo inclusivo, é neste âmbito que as pessoas geralmente descobrem como iguais, ou diferentes. Na história “O Patinho Feio” é possível enxergar essa busca por integração e por sua própria turma.

No conto de Hans Christian Andersen, um cisne nasce em uma família de patos, que logo, diante da sua aparência diferente, acabam por enxergá-lo como feio. Na realidade, seu ovo, casualmente, parou ali, no ninho dos patos. Triste e sozinho, ele foge e encara muitos desafios na vida selvagem. E, em uma primavera, enquanto o patinho feio abria suas asas, três cisnes o avistam e vão até ele. No princípio, ele não se reconhece como um deles, por achá-los magníficos, mas logo após, ele percebe que finalmente encontrou a sua turma, ele não era um pato, mas um belo cisne.

Agora, pensando que qualquer pessoa possa se sentir “fora do ninho” em sua própria família não parece soar muito estranho, pois, muitas vezes, esse é um movimento real, que ocasiona sentimentos de rejeição, tristeza e inaceitabilidade. Frequentemente, diante das culturas, padrões impostos e expectativas excessivas, muitas pessoas caem nas armadilhas de desejar se enquadrar a tudo o que é ofertado e proposto, mesmo que isso vá contrário a sua essência natural. Há sempre muita pressão para que o indivíduo reproduza determinados comportamentos que os pais acham importantes, que ele siga regras e tome rumos de acordo com a escolha dos mesmos. Entretanto, é necessário recorrer às forças internas para se libertar daquilo que não permite expandir.

Na história, a mãe pata não sabe lidar muito bem com a situação daquele filhote diferente, ela tenta defendê-lo no início, mas depois se rende aos comentários alheios e maldosos, desejando e permitindo a partida do patinho feio. Há nessa relação algo muito difícil, pois o filho diferente era vítima de uma comunidade e aquela mãe, não suportou tamanha pressão sob ambos. Sua vida também é transformada, mesmo que aquele patinho não fosse igual aos outros, ela de algum modo, esteve envolvida com ele, porém dividida e mesmo sem saber, ela acaba por dar liberdade e permitir que longe dela, sem proteção e desamparado, o patinho encontre seu próprio bando por si só.

É necessário sair da casca, descobrir o mundo por seus próprios olhos e pés, mesmo tudo pareça ameaçador e difícil. Ninguém consegue crescer se não encontrar suas ferramentas pessoais para as adversidades. O patinho na verdade era um cisne (e dos belos, por sinal), mas para se reconhecer como tal foi preciso passar por sofrimentos, dificuldades e medos. Não se pode comprimir energias e sentimentos em pequenos padrões. Assim como disse Clarissa Pinkola em uma de suas obras: “Quando os escritores, por exemplo, se sentem secos, áridos, sem vida, eles sabem que o jeito para voltar à fertilidade reside em escrever. No entanto, se eles estiverem presos no gelo, não conseguirão escrever. Há pintores que estão ansiosos por pintar, mas dizem a si mesmos, “larga disso, seus quadros são estranhos e feios”. Existem muitos artistas que ainda não firmaram sua posição e outros que são veteranos de guerra no desenvolvimento da sua vida criativa, e mesmo assim cada vez que eles pegam da pena, do pincel, das fitas, do roteiro, eles ouvem, “você só causa problemas. Seu trabalho é marginal ou totalmente inaceitável porque você mesmo é marginal e inaceitável.”

Portanto, qual é a solução? Aja como o patinho. Siga em frente, supere tudo com a luta. Apanhe logo a caneta, comece a escrever e pare de resmungar. Escreva. Pegue o pincel e, para variar, seja má consigo mesma: pinte. Bailarina, vista sua malha, amarre fitas no cabelo, na cintura ou nos tornozelos e diga ao corpo que se mexa. Dance. Atriz, dramaturga, poeta, musicista ou qualquer outra. Em geral, pare de falar. Não pronuncie mais uma palavra sequer, a não ser que você seja cantora. Tranque-se num quarto com teto ou numa clareira sob os céus. Exerça sua arte. Sabe-se que o que está em movimento não se congela. Por isso, mexa-se. Vá em frente.”

Ligia Maria de Araujo Santos

Estudante de psicologia, ama escrever e adora boas rimas. Gosta de passar o tempo ouvindo boas composições musicais capazes de tocar a alma. Gosta de observar e ouvir boas histórias. Tem fé em Deus, na vida, nas pessoas e no futuro. Escreve para o site colaborativo Obvious.

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Ligia Maria de Araujo Santos
Tags: Patinho Feio

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