Jackson César Buonocore

Por que a decepção é um sentimento que dói tanto?

A palavra decepção vem do latim “deceptio”, que significa engano ou dolo. E todos nós já perguntamos por que a decepção dói tanto? Porque ela é um sentimento amargo, onde o nosso corpo e mente não conseguem digeri-lo.

Não tem jeito, as decepções estão presentes em nossas vidas, algumas são mais leves e outras mais severas e todas deixam “cicatrizes”, prejudicando o nosso equilíbrio, que se somatiza na forma de enxaqueca, tensão muscular, mágoa, angústia, etc.

É uma realidade psicológica, resultante de expectativas que criamos em relação a certos indivíduos, objetos e situações. Entretanto, não devemos deixar que o engano ou dolo cause desconfiança de todos, caso contrário viveremos na defensiva.

Podemos citar três exemplos, a decepção amorosa, uma vez que confundimos a ilusão da paixão com a realidade, a decepção com um amigo ou amiga que nos faltou com o respeito e na política, o cenário é frustrante, tomado por mentiras, corrupção e uso da máquina pública para atender interesses pessoais.

Isso são os reflexos de uma sociedade hipercompetitiva, que banalizou a desilusão e o sofrimento, como marcas do nosso modo de viver. O filósofo Gilles Lipovetsky classificou de sociedade da decepção, que cria uma atmosfera de ansiedade, na qual o conceito de felicidade ingressa em uma condição paradoxal, em que o entretenimento e o bem-estar dividem espaço com um intenso mal-estar subjetivo.

Segundo Lipovetsky, o nosso tempo caracteriza-se pela alta incidência da experiência frustrante, no âmbito público e privado, que diz respeito ao enfraquecimento das instituições coletivas, das formas religiosas e políticas, que evidencia que vivemos em uma era da superabundância de ofertas e da desestabilização das culturas de classes, que agora está em todos os lugares e em todos os níveis sociais.

Por isso, que a decepção nunca vem de surpresa e os sinais são claros, contudo, preferimos o caminho mais fácil, alimentando a ilusão e aumentando a altura do “tombo.” Sabemos que é complicado viver em uma sociedade assim, mas não significa que temos que fechar as portas para novas oportunidades, bem como não podemos responsabilizar os outros por nossa ingenuidade e falsa expectativa.

No entanto, quando a decepção se torna crônica e patológica na vida dos sujeitos, o melhor é buscar a psicoterapia, que é um ambiente livre de julgamentos. Por fim, precisamos estar –permanentemente – conscientes de que as pessoas podem falhar conosco, porém, somos igualmente falíveis e podemos também decepcionar os demais, lembrando que “todo sonhador está condenado a viver um grande número de decepções”, como dizia o filósofo Jean Paul-Sartre.

Jackson César Buonocore

Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista

Recent Posts

Vai ser impossível não chorar: o filme da Netflix que vai te deixar de coração partido

O filme da Netflix que vai te levar às lágrimas e te deixar pensando por…

2 dias ago

Você não é tão bonito quanto pensa — o espelho engana seu cérebro (e a ciência explica por quê)

O espelho mente? A ciência revela por que você se vê melhor do que realmente…

2 dias ago

Você dorme coberto mesmo suando? A ciência explica por que seu cérebro pede isso

Dormir coberto no calor não é mania: o que o peso da manta faz com…

2 dias ago

Você está começando e terminando o dia errado — e isso pode estar destruindo sua felicidade

Dois erros diários podem estar drenando sua felicidade — veja como corrigir ainda hoje ⏰

3 dias ago

Você não gosta do Natal? A causa pode estar em algo que sua mente tenta esconder há anos

🎅🤯 Psicólogos quebram o tabu: por que tanta gente rejeita o Natal (e o motivo…

3 dias ago

Do prato ao DNA: o que estes 8 alimentos têm a ver com prevenção do câncer

O que esses 8 alimentos fazem no corpo que pode dificultar o avanço do câncer…

4 dias ago