Reflexões

Por que nos elogiamos tão pouco? Rafael Lauro

Outro dia aprendi com alguém que elogios são como abraços. Não li em um livro, muito menos estudei em uma aula, mas descobri pelo afeto de uma palavra doce, um momento desses em que parecem ter caído mil fichas. Antes de tudo, é preciso valorizar os breves segundos em que a vida te desarma, em que a surpresa te quebra em pedaços em que o tempo se adensa e parece querer se repetir.

Não sabemos receber nem dar elogios. Muito cedo nós aprendemos a engolir os elogios e cuspir as críticas. Acho que ligamos muito rápido elogio com submissão e crítica com superação, é uma hipótese. Ou talvez não consigamos de fato querer a diferença que se apresenta na percepção do outro sobre nós mesmos; ou ainda seja muito elogiar (ou receber elogios de) alguém que não se parece conosco; talvez nós sejamos inseguros demais para dar crédito ao elogio de alguém qualquer, alguém que não seja o chefe, o professor, o tal, o devidamente autorizado a elogiar.

Ah, como nossas relações são mesquinhas. Em matéria de elogios, parece que jogamos Espinosa no lixo e ficamos com Freud, terrível! Há quem distribua elogios para conquistar, um colonizador distribuindo pirulitos; há quem precise de elogios para viver, uma máquina desejante subnutrida; há quem só elogie em troca de algo, um especulador do mercado das boas palavras; há quem elogie cada vez menos por desconfiar tanto de quem elogia, um atrofiado da sensibilidade.

M.C. Escher, Relativity Lattice

Busquemos os bons encontros, deixemos o ego de lado. Há de se parar com toda essa mania interpretar, esse é o primeiro passo. Abrir-se para o afeto e não para o seu duplo, aquele que achamos ser o verdadeiro, aquele que está por detrás das coisas, que precisa de análise, que é a essência do que nos acontece, que só pode ser alcançado com muita reflexão. Não precisamos de nada disso, pense no elogio dos loucos, no elogio das crianças, no elogio das mães, no elogio dos amantes.

Hegel haverá de me desculpar, mas não nos abastecemos somente de reconhecimento. Não somos balões infláveis. Não temos nada o que poupar. Não criamos uma existência esperando pelas congratulações, pois nisso não há afirmação suficiente. Não se trata de reconhecer, mas de compor! Há no elogio qualquer coisa de intensa, qualquer coisa bonita na vazão espontânea dos sentimentos, nos dançarinos que giram por si mesmos, nos pássaros que cantam mesmo depois de acasalar, no som que não quer silenciar, na brincadeira sem hora de terminar, no elogio que se dá por se dar. Busquemos as palavras que atravessam!

Psicologias do Brasil

Informações e dicas sobre Psicologia nos seus vários campos de atuação.

Recent Posts

Regulamentação de jogos de azar no Brasil: como as novas leis afetam o mercado e os jogadores

Descubra por que o mercado brasileiro de jogos virtuais é tão popular, como ele está…

18 horas ago

Por que tantas pessoas interessantes estão solteiras?

Bom, para começo de conversa, sei que tem muita gente solteira por opção. Gente que…

2 dias ago

Casal de aposentados comprou 51 cruzeiros seguidos: “Mais barato que casa de repouso”

Marty e Jess Ansen trocaram a rotina de uma casa de repouso por um estilo…

3 dias ago

Atriz revela que não beijava namorado na frente da filha e explica o motivo

Carol Castro e Bruno Cabrerizo namoraram por dois anos e a relação chegou ao fim…

3 dias ago

Mãe oferece pagamento para quem quiser ser amigo de seu filho com síndrome de Down e é surpreendida

Ela postou em sua página no Facebook uma mensagem oferecendo US$ 80 (cerca de R$…

4 dias ago

Este hábito de sono pode aumentar risco de derrame; Saiba mais

Descubra como um simples hábito de sono pode estar ligado ao aumento do risco de…

4 dias ago