A palavra “satiríase” vem do grego. Os Sátiros são seres mitológicos masculinos da Grécia Antiga. Possuíam corpo de carneiro, cabeça de homem, orelhas pontudas, cabelos compridos e nariz achatado. De acordo com a mitologia grega, os sátiros acompanhavam o semideus Pan (protetor dos pastores) e o deus Dionísio (do vinho e das festas), vagando pelas montanhas e bosques da Grécia. Nos mitos gregos tinham a características de apresentarem grande potência sexual. Logo, eram retratados, pelos pintores gregos, apresentando ereção.

Satiríase (em homens) é um transtorno sexual caracterizado por um nível elevado de desejo e atividade sexual a ponto de causar prejuízos na vida da pessoa. Trata-se de um tipo de vício com sintomas compulsivos, obsessivos e impulsivos, e seu tratamento é similar ao de outros tipos de dependências. Vale ressaltar a diferença entre satiríase e ninfomania: o primeiro (em homens), o segundo (em mulheres).

A prevalência está em torno de 5%, sendo mais comum em homens, porém a dificuldade dos participantes em assumirem o problema por questões morais e sociais indicam que a frequência deve ser maior, uma vez que a cultura masculina do sexo como diversão, em baladas, festas, combinado às drogas, álcool, carnaval, eventos, etc. podem ser predeterminantes nas incidências e casos de satiríase no Brasil.

Pesquisas brasileiras indicaram que a média de orgasmos é de 3 por semana entre os homens. Com base nesse dado estimou-se que mais de 7 orgasmos por semana ou mais de 15-25 horas vendo pornografia podem ser um sintoma de hipersexualidade. Os próprios portadores geralmente relatam sentirem preocupados e desconfortáveis com o excesso de desejo sexual e que seu tempo poderia ser melhor gasto em outras atividades mais satisfatórias e produtivas.

TIPOS:
Segundo Coleman (1992) existem cinco tipos de Transtorno Sexual Hiperativo:

– Sexo compulsivo e múltiplos parceiros;

– Fixação compulsiva na obtenção de um parceiro inatingível;
– Masturbação compulsiva, mesmo sem vontade ou com dor;
– Compulsão por múltiplos relacionamentos afetivos ou;
– Sexo compulsivo com um único parceiro;

 

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

É um dos sintomas da fase maníaca do distúrbio bipolar. Nesta fase, o pensamento acelerado, delírio de grandiosidade, impulsividade e euforia podem gerar um grande aumento no número de relações sexuais, frequentemente sem preservativo e com múltiplos parceiros. Semanas depois na fase depressiva é comum que o paciente se arrependa e sinta vergonha e culpa por seus excessos e irresponsabilidade. Doença de Pick, lesões cerebrais, sífilis e demências também podem causar um aumento na sexualidade, impulsividade e obsessão sexual além de outros comportamentos socialmente inadequados similares.

Está fortemente associado com outras adicções como alcoolismodrogadicçãojogo patológico e compulsão alimentar. Também pode estar associado a transtornos de ansiedadedistúrbios do humortranstorno de personalidade ou a outra disfunção sexual. Não deve ser classificada quando a hipersexualidade for causada por drogas (como metanfetaminas) ou medicamentos.

TRATAMENTO:
Diversas escolas da psicologia podem oferecer tratamento para este transtorno. A terapia cognitivo-comportamental ensina o paciente a controlar seus impulsos e a manter relacionamentos sexualmente saudáveis e satisfatórios não necessariamente diminuindo a frequência sexual (por exemplo) pode focalizar em ensinar a pessoa a restringir seu número de parceiros sexuais, melhorar a qualidade do ato e sempre usar preservativos). Pode também ser voltada para o desenvolvimento de habilidades para lidar melhor com a ansiedade, desconforto e carência afetiva ou de assertividade (saber dizer “não” gentilmente). A fenomenologia-existencial traz o entendimento desse corpo, que por motivos diversos, pode (na realidade do paciente) estar em fase de desconstrução e autodestruição, uma vez que sexo compulsivo e a prática sexual com vários parceiras (os), expõe-no ao o risco de infecções por DST/AIDS e outras doenças.

Antidepressivos que regulam a serotonina (ISRS) podem ajudar a diminuir a libido, a ansiedade, os pensamentos obsessivos e aumentar o autocontrole e bom humor. Psicoterapia de casal e psicoterapia de grupo especialmente voltada para adicção sexual também tem demonstrado bons resultados.

REFERÊNCIAS

COLEMAN, E. – Is your patient suffering from compulsive sexual behavior? Psychiatr Annals 22:320-325, 1992.

CUMMINGS, J. L.. Dementia: A clinical approach (2nd ed). Boston: Butterworth-Heinemann.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e sociedade na Grécia Antiga. Trad. Myriam Campello. Rio de Janeiro, 1999. Editora: José Olympio.

Manoel Brandão Neto

Especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde Mestrando em psicologia da saúde (Universidade Federal do Amazonas)

Recent Posts

Série ‘impossível de largar’ conquistou o TOP 10 da Netflix em 72 países

Esta série irresistível chegou à Netflix com o pé na porta e não demorou para…

13 horas ago

Maíra Cardi se pronuncia pela primeira vez sobre diagnóstico do filho de 24 anos

Maíra Cardi usou as redes sociais nesta semana para compartilhar um assunto pessoal e até…

14 horas ago

Nova série de sucesso é a maratona mais rápida da Netflix; você vê tudo em menos de 2 horas

Nova série documental da Netflix revive um dos crimes mais chocantes dos EUA em apenas…

2 dias ago

Formações que garantem emprego rápido no mercado atual — não é Medicina, nem Direito

Descubra quais são os diplomas universitários mais valorizados no mercado de trabalho atual e quais…

2 dias ago

Mudanças de tempo: saiba como proteger a saúde respiratória da sua família

Desde a alimentação balanceada até a atenção a choques térmicos e cuidados específicos com grupos…

2 dias ago

O papel da prática na consolidação do conhecimento em medicina

Entenda como resolver questões, fazer simulados e provas preparatórias, estudar casos clínicos e revisar erros…

2 dias ago