O trabalho de pesquisa e de exploração do comportamento humano que Jung fazia, tanto da consciência quanto do inconsciente, nas relações com o meio exterior, permitiu-lhe perceber tipos diferentes de comportamento, muitas vezes gerando desavenças e desentendimentos, não pelo princípio básico de um determinado assunto, mas pela forma de cada um agir e reagir frente ao tema ou, ao mundo. Com isso Jung desenvolveu o estudo dos tipos psicológicos, não como um quadro de referência, mas como uma orientação para percebermos como as funções autorreguladoras da energia psíquica atuam compensatoriamente entre a consciência e o inconsciente. Sendo a função compensatória análoga à homeostase do organismo físico, mantendo e objetivando sempre o equilíbrio dinâmico da psique.

Inicialmente Jung percebeu dois grandes grupos de indivíduos, uns partiam de forma rápida e confiante aos estímulos externos e, outros hesitam, recuam, parecendo sentir receio em se relacionar com o externo. O primeiro grupo era de pessoas muito adaptadas ao meio coletivo, mas com um grande subdesenvolvimento do plano individual, o qual ele denominou de extrovertidos, onde a energia fluí, sem maior dificuldade, na direção dos objetos. O segundo grupo era formado por indivíduos desadaptados ao meio, por serem mais individualistas apesar de terem desejos íntimos de viverem mais voltados para a coletividade, denominando-os introvertidos, onde o fluxo de energia recua diante dos objetos, pois estes parecem ameaçadores.

Assim, visto no conjunto, todos os introvertidos tem um fluxo de energia extrovertida em seu inconsciente, da mesma forma que os extrovertidos possuem um fluxo de energia introvertida. Desta maneira, percebemos a circulação constante da energia, num caráter contínuo, inesgotável e compensatório. Sendo que o ego deve contemplar ambas as direções para que a totalidade do ser esteja plena.

Posteriormente, Jung percebeu que existiam muitas outras variações dentro de cada um destes grandes grupos de atitudes típicas, pois dois indivíduos introvertidos poderiam divergir muito na forma de pensar. Assim Jung concluiu que a função psíquica, que cada indivíduo usava de maneira predominante e preferencial para lidar adaptativamente com o mundo externo, era o que os diferencia ainda mais.

São dois subgrupos que originam duas funções antagônicas cada, perfazendo-se um total de quatro funções de adaptação, onde reconhecemos o mundo exterior e, nos adaptamos a ele. O primeiro subgrupo Jung denominou de racionais, que atuam ou na função pensamento ou na função sentimento. O segundo subgrupo são os empíricos, que atuam ou na função sensação / percepção ou na função intuição. Todos nós possuímos as quatro funções, porém uma delas vai se apresentar mais atuante e desenvolvida, por ser mais próxima da consciência. A esta função chamamos de função principal. Em oposição à função principal, temos a função inferior, estando muito mais próxima do inconsciente, vindo muitas vezes junto com as projeções da sombra, sendo grande auxiliar no processo analítico, pois irá fazer a ponte entre o consciente e o inconsciente. As outras duas funções são chamadas de auxiliares, com menor grau de diferenciação que a função principal.

Existe, desta forma, a possibilidade de oito tipos de funções principais. Ao conhecermos a função principal de um indivíduo imediatamente saberemos qual é a sua função inferior, por estar em oposição a ela. Assim, se um indivíduo for sensação extrovertida sua função inferior será intuição introvertida. Isto nos dá uma cruz, onde as funções auxiliares serão o sentimento e o pensamento.

Com o conhecimento de cada tipo psicológico poderemos perceber como o indivíduo estabelece as relações com o meio e, ajudá-lo a diminuir a carga de energia investida na função principal, para permitir que as funções auxiliares e até a função inferior contribuam com a totalidade. Assim não acontecerá a extrema diferenciação de um determinado tipo e função no ego, mas o rebaixamento desta, permitindo a percepção dos seus pares complementares mais inconscientes. Sendo a adaptação um mecanismo psíquico extremamente importante para equilibrar fatores internos e externos. Porém, devemos distinguir a adaptação do conformismo, da normose ou da normopatia, pois a adaptação é um mecanismo psíquico muito importante para o processo de individuação.

Para Jung, a falha na adaptação é um sintoma da neurose, pois ela é responsável em conciliar as demandas tanto do mundo interno quanto do mundo externo, que podem fazer solicitações completamente antagônicas, gerando muita tensão e angústia. Porém, para o ego heróico, muitas vezes a adaptação vira normopatia, deixando o indivíduo fixado. Desta forma, no início da análise, muitas vezes acontece uma espécie de destruição desta adaptação estagnaste que a pessoa construiu, na maioria das vezes, por meio dos mecanismos de gratificação e recompensa social e cerebral, deixando de lado o Self.

Texto original de IJEP- Instituto Junguiano de Estudo e Pesquisa

 

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