Liduína Benigno Xavier

Você se considera uma pessoa compassiva?

Examinando a história, veremos que a sobrevivência humana deve parcela considerável do seu êxito à solidariedade expressa nas atitudes de compaixão.

Compaixão é a emoção causada em nós diante da dificuldade ou sofrimento alheio. E distingue-se de outras emoções, por seu caráter ativo, uma vez que só podemos identificá-la nos gestos de solidariedade dirigidos à promoção do outro ou à mitigação do seu sofrimento.

As pessoas aptas ou afeitas a expressar compaixão são chamadas de compassivas. A pessoa compassiva alia a busca pessoal por objetivos e metas próprias à capacidade de considerar o semelhante nos passos que dá rumo ao crescimento e ao sucesso.

Assim, para alguém considerado compassivo, não vale vencer a qualquer preço; não vale atropelar princípios pessoais ou cometer atos que maculem a consciência. São indivíduos para os quais o custo humano tem maior valência em comparação aos demais ‘preços a pagar’ para conquistar algo.

A compassividade não é valorizada apenas no nível pessoal. As tradições filosóficas também têm chamado a atenção para a importância da compaixão não apenas como atitude, mas como princípio de regulação das próprias relações morais.

Há toda uma linhagem de pensadores (Aristóteles, Descartes, Hobbes, Spinoza) que vê a compaixão como sendo a emoção estruturante dos sentimentos ligados à moralidade e, por isso, avaliam que quem é capaz de se compadecer tem caráter superior.

Diante desse painel, é inevitável a pergunta: por que, apesar do evidente caráter de bondade implícito nos atos compassivos, a compassividade não é um traço mais identificado nas pessoas? Por que, ao contrário, as pessoas parecem cada vez mais imunes à dor alheia?

Não existe explicação única para as questões. Mas dois fatores parecem prevalecer. Primeiro. Por causa da concorrência desenfreada entre os homens e da valorização do esforço individual em detrimento do coletivo, não raro, os compassivos são tidos como gente fraca que se ocupa com a dor alheia em vez de cuidar dos próprios interesses.

Segundo. A compaixão é tida como uma emoção extrema que exprime atos solidários que só fazem sentido em momentos críticos, como tragédias, cataclismos e fatalidades. Assim, demonstrar piedade no dia a dia seria uma ação deslocada.

Nos dois casos, a justificativa é equivocada. Senão vejamos.

Ter compaixão não é sinal de fraqueza. Ao contrário, ser compassivo exige força pessoal. E hoje, o mundo é tão complexo e as realidades pessoais estão tão entrelaçadas que os mais ‘fortes’ são os detentores de um senso de individualidade que inclui a perfeita noção de que somos seres em conjunção dividindo a cena da vida.

Também não precisamos esperar um dilúvio ou guerra para agirmos como pessoas compassivas. A compaixão é uma possibilidade afetiva humana. Podemos atuar como seres compassivos em todas as ocasiões.

Enfim, somos feitos do mesmo pano. A dificuldade do outro pode ser a mesma que algum dia experimentaremos. E quando isto acontecer, tudo o que se espera é um olhar complacente, uma mão estendida ou uma frase de aceitação ou estímulo.

Liduína Benigno Xavier

Psicóloga, Mestre em Educação, formação em Facilitação de Processos humanos nas organizações, a escritora é consultora organizacional há mais de vinte e cinco anos; É autora do livro: Itinerários da Educação no Banco do Brasil e Co-autora do livro: Didática do Ensino Corporativo - O ensino nas organizações. Mantém o site: BlogdoTriunfo que publica textos autorais voltados ao aperfeiçoamento pessoal dos leitores e propõe reflexões que ajudam o leitor a formar visão mais rica de inquietações impactantes da existência.

Share
Published by
Liduína Benigno Xavier

Recent Posts

Padre Fábio de Melo desabafa após polêmica em cafeteria: “Estou a um passo de desistir”

Padre Fábio de Melo faz desabafo após polêmica em cafeteria de SC que resultou na…

16 horas ago

Francisco Cuoco, aos 91 anos e com 130 kg, enfrenta problemas de saúde

Francisco Cuoco, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, vive atualmente um período de fragilidade…

16 horas ago

Idosos são desobrigados de pagar três dívidas com base em nova lei

Idosos com 60 anos ou mais podem renegociar dívidas com base na Lei do Superendividamento.…

2 dias ago

Shampoos e cosméticos de marcas populares são banidos pela Anvisa

Anvisa proíbe shampoos e cosméticos de marcas populares por falta de registro. Entenda os riscos…

2 dias ago

Filme premiado que chegou na Netflix revela bastidores de escândalo que abalou Hollywood

Elenco poderoso e roteiro baseado em fatos reais: conheça o filme que revela como duas…

2 dias ago

Sabonetes utilizados por milhões de brasileiros têm venda proibida pela Anvisa

Linha de produtos foi retirada do mercado por não cumprir exigências sanitárias; empresa ainda não…

3 dias ago