Por Vera Felicidade de Almeida Campos
O exercício de autonomia tem como trajetória a constatação, a realização, o aparecimento da vontade. Descobrir-se capaz de realizar planos, sonhos e propósitos cria firmeza estabelecedora de disponibilidade e de determinação. No contexto da autonomia, a rigidez, a firmeza permite flexibilidade, pois existe em torno do que girar. A vontade é um instrumento de mudança, de libertação, foi assim que Fichte, nos finais de 1770 e início de 1780 trouxe para a humanidade uma transformação considerável: não mais o “cogito, ergo sum” e sim o “volo, ergo sum” (“penso, logo existo” – “quero, logo existo”). Neste momento podemos dizer que, através dos ideais românticos, o homem recuperou seu lugar no centro do mundo com seu querer. Explode nas artes, na literatura, na poesia e filosofia, esta nova ideia; Nietzsche traz os deuses que dançam e anuncia a morte de Deus. É o “humano, demasiado humano” que se afirma.
Remanescentes desta vontade – do exercício da vontade como forma de enfrentar seus aniquiladores – são encontrados hoje na psicologia. A busca de individualização, o exercício de questionamentos terapeutizantes promovem a retirada do ser humano da alienação e submissão. É um ideal romântico no sentido do exercício da disponibilidade, do não compromisso com o que o aliena. O homem deixa de ser peça de engrenagem, individualiza-se e restabelece sua centralidade no mundo.
Realizar anseios transcendentais transforma necessidades em possibilidades, confere ao ser humano a condição de dínamo propulsor de infinitas variáveis. Assim, o homem não se esgota em seus limites orgânicos, não permanece contido por construções sociais. Esta não submissão cria liberdade e faz com que a criatividade, a imaginação se exerça e deste modo literatura, arte, poesia pavimentam sua trajetória.
Esta possibilidade de dizer não, conforme Albert Camus a única liberdade, é o que faz a antítese, é o que estrutura a mudança, é o que faz o homem ser o centro do mundo e reedificá-lo. Mundo é o que os homens fazem dele, não é mais o que se recebe como dado, como natural. A própria dicotomia entre natural e criado é transformada: tudo é natural, tudo é construído, o que importa é o defrontar-se, o que importa é o diálogo com o existente, com o outro. Transformar, mudar, manter são as questões respondidas para soluções individualizadas, sem permeios de regras, por definição, defasadas e opressoras.
Questionar, ultrapassar limites são fortificadores da determinação escolhida como antítese ao que aliena. Este ideal romântico – tanto quanto questões mais amplas do romantismo de Fichte, Herder e Kant – traduz as novas dimensões do humano na contemporaneidade, gerando a percepção da própria individualidade, permitindo construção da autonomia, disponibilidade e liberdade. Os frutos de ouro destas atitudes são profusamente encontrados na literatura e na arte em geral. Infelizmente, este fenômeno não foi universal. A expansão realizada pelo colonialismo nos séculos XVII, XVIII e XIX nas colônias, com suas explorações econômicas, transformaram seus habitantes em massa de manobra, em matéria-prima para industria e agricultura, em bala de canhão, consequentemente, pouco restando do humano para criar autonomia, disponibilidade e liberdade que resultasse em literatura, arte e ciência não modelada pelos colonizadores.
Atualmente, horizontes de alienação, de massificação são os resíduos da trajetória humana. A vontade é rara, apenas estruturada como resposta a demandas contingentes, a demandas mercadológicas, mas, apesar disto, muitas sementes estão plantadas, germinando para novos questionamentos e consequentes mudanças.
TEXTO ORIGINAL DE WSIMAG
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