SAÚDE MENTAL

Perturbação de déficit de hiperatividade ou imaturidade e falta de regras?

Por Márcia Abreu Carrola

A sociedade vive de “modas” e às vezes os diagnósticos acompanham as ditas “modas” de forma assustadora. A chamada “chapa 5”, aquela que dava para tudo, a banha da cobra de antigamente, pode ser um assustador veneno, não uma cura.

O “Tio google” que leva rapidamente as pessoas a pesquisar desenfreadamente a informação, traduz-se na criação de uma falsa sensação de sabedoria. Não é de todo incomum as pessoas já levarem um diagnóstico em mente quando consultam um psicólogo. Muitas vezes só pretendem a confirmação da sua “ideia” ou teoria. Acontece com praticamente todos os pacientes, quer adultos quer com os pais que diagnosticam a sua criança. Eu concordo ativamente que as pessoas procurem informação. Só peço é que verifiquem a veracidade das fontes. No mundo da internet existe de tudo: o bom, o razoável e o mal. Há que saber distingui-los.

No caso de um suposto diagnóstico de perturbação de défice de hiperatividade temos de ter em conta muito seriamente se ”os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções.” (cit DSMV). Para além destes fatores, temos de verificar se não existe uma questão de desvalorização da escola, de desmotivação ou problemáticas no contexto familiar.

Turmas demasiado grandes dividem em muito a atenção dos professores para com o aluno, fazendo com que não seja feito um reforço, uma valorização nas aprendizagens. O tipo de educação familiar também pode promover na criança alguma agitação e dificuldade em permanecer atenta e quieta. Um estilo familiar demasiado permissivo não baliza o comportamento das crianças ou seja, não aprendem até onde podem ir e, portanto, não respeitam a legitimidade da figura de autoridade – neste caso, do professor. Estas crianças acabam por não “saber” comportar-se conseguindo, no entanto, e se o quiserem, ser miúdos calmos e atentos. Ora estes casos não se encaixam no diagnóstico.

Depois temos a questão da medicação. Não sou, de todo, contra a medicação. Acho apenas que ela deve ser ministrada depois de se ter tentado uma intervenção/terapia com um psicólogo clínico ou educacional. Existem bons programas de intervenção, específicos para esta questão, com muito bons resultados. Muitos deles foram criados pelos próprios profissionais, baseados nos seus anos de experiência. As técnicas de redução de ansiedade, baseadas no ensino do controle da respiração produzem bons resultados no controle do comportamento. Penso que os químicos devem ser sempre o último recurso mas, se realmente tentamos outros caminhos e esses não resultaram, devemos aceder a terapia medicamentosa.

É mais fácil, à partida, ministrar um comprimido que supostamente será milagroso. Mas esse não é o caminho mais natural.

Temos que ensinar às pessoas a se autoconhecerem e, depois, com esse autoconhecimento, trilhar o seu futuro com certezas e confiança.

Imagem de capa: Shutterstock/Ollyy

TEXTO ORIGINAL DE PSICOLOGIA.PT

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