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Inside alive: A força reanimadora da música.

“A música pode ligar as pessoas com o que elas foram quem elas são e suas vidas. Porque quando ficamos velhos, todas as coisas familiares e as nossas identidades são arrancadas de nós.” 

– Dan Cohen

‘Inside Alive’ é um documentário emocionante sobre o poder transformador da música na vida de pessoas com Alzheimer e demência. O cineasta Michael Rossato-Bennett seguiu os passos por três anos de Dan Cohen, que fundou a organização, sem fins lucrativos, Música e Memória. Desta forma, ele pode comprovar com seus próprios olhos as grandes efusões na vida daquelas pessoas.

O documentário inicia com uma senhora de 90 anos que diz não se lembrar de muitas coisas de sua vida, porém, quando ela escuta Louis Armstrong, ela revive. Recorda-se do seu tempo de escola, onde sua mãe não permitia ouvi-lo e ela fugia à noite e trazia fotos do baile. Aos poucos foi se lembrando daquela época e no final, disse que não pensava que poderia falar tanto, com um sorriso largo no rosto, ela demonstra o que o filme propõe tratar, o resgate da memória através do poder da música.

Dan Cohen é um assistente social e voluntário em casas de repouso, ele pediu para Bennett filmar suas idas aos lares de idosos, pois queria que todos pudessem ver as reações das pessoas com demência com a música. Um dos exemplos mais tocantes é o de Henry, um senhor com mais de 90 anos de idade, que mal se comunicava, nem mesmo levantava a cabeça quando falavam com ele, entretanto, quando Dan coloca para tocar em um Ipod a música favorita dele, é possível ver a emoção atingi-lo. Henry realmente torna a viver por instantes prazerosos. Ele recorda-se de momentos vivenciados em sua juventude, aonde ia a grandes bailes e trabalhava de bicicleta. Ele readquire sua identidade por um tempo através da canção, foi possível conectá-lo com seu “eu” adormecido pela doença.

O neurologista Oliver Sacks fala no documentário que a música é inseparável da emoção. Portanto, não é apenas um estímulo fisiológico, mas quando funciona, é capaz de ativar na pessoa algumas memórias e emoções relacionadas àquele som. As partes do cérebro que estão envolvidas em lembrar e dar respostas à música não são extremamente afetadas na doença de Alzheimer e em outras demências. Parte do motivo disso ocorrer, tem relação com a entrada da música no cérebro humano. Ela possui a capacidade de ativar mais porções do cérebro do que outros estímulos, não somente partes auditivas, mas também visuais e emocionais, atingindo assim, um nível inferior, no cerebelo, todos os elementos básicos para a coordenação. A música se registra nos movimentos e nas emoções e estes são os últimos campos afetados pelo Alzheimer.

Mesmo com sua potencialidade, o trabalho de Dan teve, inicialmente, pouquíssimo apoio, pois o tratamento com remédios é algo mais fácil, há todo um “negócio”, pois o paciente é visto como máquina, onde os ajustes são realizados através de dosagens medicamentosas. Também há a visão reducionista de definir uma pessoa apenas através de seu diagnóstico ou deficiência, colocando-a em primeiro lugar como doente, e só depois como um ser humano.

A música dá para aquelas pessoas a liberdade de expressão, o que elas não possuem dentro das instituições de repouso, dos asilos, pois diante da doença, elas acabam perdendo a independência e o controle próprio. A velhice, na sociedade atual não possui uma posição, as pessoas desejam adiar ardentemente esse momento da vida. Valorizam muito as tecnologias e máquinas e aqueles que não sabem lidar com elas, são tidos como inúteis, ficando assim, guardados e escondidos dentro dos lares de repouso. Mas, a cada década o número de idosos aumenta drasticamente, e daqui a uns anos, as sociedades terão mais anciãos do que jovens, sendo esta uma problemática que merece ênfase e cuidados.

Inside Alive, ou “Vivos por Dentro” é um documentário primoroso e extremamente sensível que traz à tona questões muito importantes com um olhar meticuloso. A velhice, a doença, a música e a humanidade. Que ao ouvir uma canção, nós não esqueçamos jamais das boas sensações proporcionadas, que a música invada nossos corações e almas e nos faça reviver sempre que preciso for.

Ligia Maria de Araujo Santos

Estudante de psicologia, ama escrever e adora boas rimas. Gosta de passar o tempo ouvindo boas composições musicais capazes de tocar a alma. Gosta de observar e ouvir boas histórias. Tem fé em Deus, na vida, nas pessoas e no futuro. Escreve para o site colaborativo Obvious.

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