Às vezes, conversando com colegas de profissão e com alunos me fazem esta pergunta. Embora pareça ser uma pergunta simples, é uma  pergunta muito difícil de responder.

Cada paciente que chega ao consultório vem com uma história de vida diferente. Podem até vir com o mesmo diagnóstico do psiquiatra, com a mesma queixa, com traumas parecidos, mas a individualidade de cada um e a forma como enfrenta e lida com a sua realidade o torna especial. Não existe um atendimento padrão. A teoria, os estudos e as pesquisas sobre a psique e o ser humano em geral é uniforme para todos. Mas cada atendimento é único e exclusivo daquele paciente. Por isto não tem como generalizar dores, traumas, demandas e tão pouco atendimentos.

Por causa desta individualidade, fica difícil responder esta pergunta. Mas já que tenho que responder, me atrevo a dizer que o paciente mais difícil de atender é aquele que vem para a terapia, mas que não quer mudar. Geralmente estas pessoas vem por alguma imposição de alguém ou de uma instituição. É a mãe que força o filho adolescente, é o marido que vem por que senão a esposa pede o divórcio, é a escola que encaminha. A demanda não surge do paciente e com isto ele não vê a necessidade de mudar.

Tem uma piada que circula nos centros acadêmicos de Psicologia que diz assim: “quantos psicólogos são necessários para trocar uma lâmpada? Um ! Mas a lâmpada precisa reconhecer que precisa mudar”.  Brincadeiras à parte, o princípio é o mesmo. Quando uma pessoa busca terapia, parte-se do pressuposto que ela reconhece que algo nela precisa de ajuda. Algo não está bem. E aí não adianta a mãe falar, o vizinho falar nem a esposa ou qualquer outra pessoa falarem. A necessidade e o desejo tem que surgir da pessoa e só dela. Claro que aqui não estou falando de crianças, pois estas muitas vezes não conseguem entender o que está acontecendo e com isto não conseguem verbalizar o pedido de ajuda.

O paciente que não reconhece que precisa de ajuda e que entra em terapia só para agradar alguém ou para evitar algum conflito, este é o paciente mais difícil de atender. Este não entra em processo. Este não quer ajuda. Ele vem falar do tempo, reclama da mãe, do Governo, do periquito, mas nunca consegue reconhecer que algo está errado nele. E pasme você. Geralmente tem algo errado. Ele só não quer ver.

Pessoas que não aceitam que precisam de ajuda são difíceis até para a convivência, que dirá para uma terapia. São pessoas autossuficientes e isto não no bom sentido da palavra. São pessoas que se bastam e acabam maltratado e afastando o outro. Tudo o que fazem, que pensam e sentem são perfeitos. O erro está sempre no outro. O fato é que todos nós precisamos de ajuda em algum momento das nossas vidas. Ninguém é totalmente autossuficiente. Quando eu me coloco na posição de que eu não preciso melhorar em nada e que sou bom em tudo, eu me torno insuportável.

Não quero dizer com isto que, porque o outro falou que eu preciso de fazer terapia, eu realmente precise. Aliás, eu sou da opinião  que todo mundo em algum momento da vida deveria fazer uma terapia. Mas eu estou falando de pessoas que chegam aos nossos consultórios apenas para satisfazer a vontade do outro, como forma de evitar um conflito, como se quisesse confirmar: ” tá vendo, o problema não sou eu, o problema é ela/e”.

Estas pessoas são sim, as mais difíceis de lidar, porque elas não percebem que estão desperdiçando seu tempo e dinheiro em algo que poderia de fato ter algum efeito e ajudar. Felizmente estas não ficam em terapia muito tempo, porque afinal de contas, é sempre o outro que precisa de ajuda e que precisa mudar algo, nunca ele.

 

Debora Mendes de Oliveira

CRP: 06/123470. Psicóloga clínica (UNIP 2014), com ênfase psicanalítica, com experiência em atendimento voltado para abuso sexual, transtornos psiquiátricos tais como depressão e ansiedade, compulsão por internet e compulsão alimentar. Nas horas vagas é escritora por diversão.

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