Sabemos o quanto o desenvolvimento tecnológico produziu transformações nas relações humanas.

O acesso à internet está a um simples clique a nossa disposição nos celulares, tablets e outros. A criação de perfis nas redes sociais e também nos aplicativos de relacionamento possuem milhões de usuários ativos, e muitos destes usuários acabam substituindo o contato real pelo virtual para se iniciar uma relação interpessoal.

Seja qual for a maneira que utilizam, acredito que o que as pessoas buscam é afeto, pertencimento, consideração, reconhecimento, amor e felicidade. Buscam, a seu modo, encontrar satisfação para seus desejos, vencer a solidão e o tédio, fugir da realidade cotidiana.

Aquilo que postamos na rede diz respeito aquilo que somos, com todas as nossas angústias e aspirações. Não basta SER feliz é preciso PARECER feliz, exibir a felicidade, curtir a felicidade alheia, compartilhar.

Podemos dizer que a realidade virtual nada mais é do que o reflexo da vida real, ao pensarmos que “é impossível ser feliz sozinho”. Mas, às vezes a rede pode ser um espaço que nos leva a escapar daquilo que somos ao mostrar para os outros o que gostaríamos de ser.

A palavra “self” é um termo utilizado na Psicologia que significa “si mesmo”. Já a palavra “selfie” quer dizer auto retrato, isto é, uma foto tirada pela própria pessoa e postada na rede.

Postar selfies, por exemplo, pode ser considerada uma forma saudável de demonstrar estados de alegria. No entanto, quando se torna algo em demasia pode indicar a demanda por admiração e necessidade de aprovação social constante, ocultando um “falso self” (falso eu) que existe fora do mundo cibernético, ou seja, pode ser uma maneira de proteger o self verdadeiro (eu verdadeiro).

Neste caso, podemos dizer que o falso self se constrói a partir da submissão à cultura das aparências, não contemplando um gesto espontâneo e autêntico do sujeito.

A depressão, as psicoses e outras patologias podem ser consideradas expressões de um falso self, onde o sujeito não encontra espaço para o self verdadeiro aflorar, denunciando aspectos da personalidade contrários aos que a sociedade espera e considera “normal”.

Já o self verdadeiro é vivenciado através da capacidade de fazer escolhas saudáveis e condizentes com seus desejos, de fazer uso da criatividade e da autonomia.

Portanto, postar selfies pode revelar um gesto espontâneo e expressar o self verdadeiro da pessoa ou, pode ser apenas uma forma de atender a uma demanda que não lhe faz sentido algum com o fim de proteger e mascarar aquilo que se deseja ocultar. Além disso, pode ser um comportamento que aprisiona e leva a pessoa a crer na necessidade de postar todas as suas experiências: “Posto, logo existo”.

Sendo assim, penso ser importante questionar, analisar e refletir sobre os conteúdos que postamos ou que buscamos na internet a fim de que esta não seja a única via que encontramos para nos relacionar e demonstrar nossos sentimento, pois ainda não conheço nada melhor do que o olhar, o toque e a presença real de quem amamos para nos deixar feliz e realizados.

O que seus selfies revelam a seu respeito? Você já fez um selfie da sua vida?

Imagem de capa: igorstevanovic/shutterstock

Audrey Vanessa Barbosa

Psicóloga clínica de abordagem psicanalítica na cidade de Limeira-SP; possui Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela FCA- UNICAMP; ministra palestras com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano. Também possui formação em Administração de Empresas e experiência na área de RH (Recrutamento & Seleção e Treinamento e Desenvolvimento).

Recent Posts

Filme de suspense que recebeu uma enxurrada de prêmios é uma das boas opções da Netflix

Um intrincado suspense psicológico que trata de temas muito profundos ao mesmo tempo em que…

16 horas ago

Billie Eilish desabafa sobre problemas com saúde mental: “Nunca fui uma pessoa feliz”

A cantora norte-americana de 22 anos contou que sempre sofreu com a depressão e que,…

17 horas ago

Quem era a psicóloga que foi morta dentro do próprio consultório no interior do RN

A psicóloga Fabiana Fernandes Maia Veras, de 42 anos, foi morta dentro do próprio consultório…

1 dia ago

Para ver na Netflix: A mais perfeita adaptação cinematográfica de um romance de Jane Austen

Um filme que aquece o coração e permanece na memória por muito tempo depois dos…

1 dia ago

Meu ex-marido se casou com minha ex-terapeuta

A advogada Ana Serafim, de 46 anos, viralizou nas redes sociais ao compartilhar um vídeo…

2 dias ago

Psicóloga é encontrada sem vida em clínica; suspeito pelo crime é ex-marido de paciente da vítima

De acordo com informações da Polícia Civil, o suspeito se aproximou da psicóloga para conseguir…

2 dias ago