Jackson César Buonocore

“Se você ama, sofre. Se não ama, adoece”

Essa frase “Se você ama, sofre. Se não ama, adoece” é uma das mais notáveis de Sigmund Freud, pois ela nos revela que no momento que nascemos e abrimos os nossos olhos para o mundo, já sofremos de uma ausência: a carência do outro.

Porém, quando nos tornamos adultos sabemos que o amor converge em diferentes modos de sofrimento: que vão desde amar e não ser amado, da perplexa revelação de que amor não resolve tudo, e de que existem pessoas que não querem amar.

Por caminhos confusos ou enviesados, alguns homens e mulheres acabam entrando na pior forma de amar: que é o amor patológico que atinge, sobretudo, as mulheres que não conseguem estabelecer relações emocionalmente estáveis.

Para as pessoas que amam demais, ou seja, de maneira obsessiva, apaixonar-se é algo cruel e, ao mesmo tempo fascinante para esse imaginário romântico, que mora na cabeça e no coração de gente que acredita, cegamente, que esse tipo de amor é grandioso, e que exige sacrifício e despersonalização.

Na verdade, estamos falando de um sentimento incontrolável, que não nasce de emoções saudáveis por alguém, mas de uma carência insuportável que provoca ansiedade e angústia, atordoando a vida, dos que amam demais, e que por isso sofrem e adoecem

Essa é uma sensação químico-física de um amor, que se caracteriza como patológico: como se fosse à dependência de um poderoso alucinógeno, que mantém os indivíduos a permanecer em relações abusivas por medo de serem abandonos.

As turbulências do amor patológico têm levado eles ou elas aos consultórios psicoterapêuticos, com problemas de sono, aflições, dificuldades de concentração, alterações alimentares e outras disfunções, em consequência dos desleixos que ocorrem na codependência.

Assim, o amor patológico pode ocorrer com pessoas de diversas idades, opções de gênero e níveis sociais, mas não apenas entre casais. Por exemplo, algumas mães gostam tanto de seus filhos que acabam com o namoro deles e têm amigos que apresentam ciúmes doentio um pelo outro, impedindo que eles vivam a própria vida.

É como disse o poeta português Luís de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente.” Entretanto, esse fogo e ferida podem se transformar em uma patologia, em que as pessoas que amam demais se sujeitam a humilhação e a submissão para estar com o outro.

Nesta citação de Freud, descobrimos que a marca do amor é a ambivalência, que pode se confundir em uma relação de amor e ódio, que podemos traduzir no conflito entre a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Tânatos), que costumam enlaçar de amor homens, mulheres, que misturam seus “deuses” e “demônios”.

Portanto, o amor patológico funciona como um pêndulo entre o Eros e o Tânatos, mas com a curva para a pulsão de morte. Contudo, para desenvolver um amor maduro, sábio e responsável, como nos ensina o psicanalista Erich Fromm, é necessário trabalharmos quatro dimensões: o cuidado, a responsabilidade, o respeito e o conhecimento.

Jackson César Buonocore

Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista

Recent Posts

Nova série do criador de Peaky Blinders já está disponível no streaming

A aguardada nova série estrelada pela vencedora do Emmy Elisabeth Moss chegou ao streaming nesta…

3 horas ago

É crescente o número de mulheres que aderem à abstinência de homens

“Estamos nos libertando dessa falsa obrigação de ter ao lado um marido ou um namorado.…

10 horas ago

Polícia Civil investiga incêndio que causou morte de psicóloga em MG

A psicóloga Rita de Cássia Almeida, de 53 anos, foi encontrada pela equipe de bombeiros…

1 dia ago

Maíra Cardi se defende de críticas por permitir que a filha chame o padrasto de pai

"É natural que ela tenha uma outra referência masculina", afirmou a influenciadora.

1 dia ago

Filme de suspense que recebeu uma enxurrada de prêmios é uma das boas opções da Netflix

Um intrincado suspense psicológico que trata de temas muito profundos ao mesmo tempo em que…

3 dias ago

Billie Eilish desabafa sobre problemas com saúde mental: “Nunca fui uma pessoa feliz”

A cantora norte-americana de 22 anos contou que sempre sofreu com a depressão e que,…

3 dias ago