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Sobre deixar ir embora o que precisa ir

Enquanto aguardo a lavadora terminar o ciclo básico – lavar roupas a noite nos deixa com uma sensação insuportável de vigília – penso nos ciclos que não terminam, que se multiplicam, transformam, perduram… Penso nas decisões tomadas que não duram nem o tempo de um café esfriar, nas promessas que não resistem nem às pré-lavagens das ideias,  nos “nunca mais” que deixam de existir por qualquer apelo, na eterna resistência em fechar os ciclos da vida.

Podemos nos comparar com as roupas colocadas em lavadoras? Será que elas, as roupas, se debatem tão sofridamente quanto nós para enfrentar as passagens de ciclos?

Enquanto estamos na fase do molho, a mais quentinha e confortável, os sentimentos ainda estão se acomodando e penetrando nas nossas vidas, ainda sem intenção definida, somente rodando e misturando-se ao todo. É quando nada nos faz mal e toda novidade parece bem intencionada e há de nos oferecer emoções novas e felizes, como assim achamos que será para todo o sempre. Passada a mágica, vem a lavagem, a dura tarefa de perceber as impurezas e falhas do que antes recebemos de tão bom grado. E esse é um ciclo que pode parecer interminável, muito embora seja tão rápido quanto aceitamos. As emoções resistem, encontramos argumentos e desculpas para reter as manchas, nos apegamos fortemente aos cheiros que nos levam aqueles instantes que queremos a todo custo reter e não deixar que escoem; nos agarramos a cada sujeirinha com se fosse a nossa única forma de nos reconhecer – como nas relações que fracassam e imploramos que haja uma explicação que seja, por mais absurda, que justifique toda a camada de ressentimento que ali se instalou, e, desapareça numa piscada de olhos, porque encontramos a resposta… ou criamos, ou inventamos..  E, a cada sacolejada, mais confusão e falta de rumo.

Sorte de quem tem amigos que são pérolas de amaciante aliviando o rebuliço da vida. Amigos geralmente tentam nos mostrar o que está mais do que evidente, mas são tão generosos que entendem quando ainda não estamos preparados para mexer naquela mancha gigantesca e preferimos ficar cutucando um pinguinho de ferrugem que nunca nos fez mal e provavelmente jamais fará. Amigos sabem que o importante é estar por perto quando resolvermos encerrar o ciclo, aceitarmos a ferrugem, e partirmos para a guerra contra a grande mancha!

E, finalmente, um dia a gente realiza que é momento de mudança, que do jeito que está não dá para ficar. Então ensaiamos o fechamento do ciclo, fazemos promessas e metas, e, começamos a deixar descer pelo ralo toda a água que não serve mais para nutrir qualquer coisa que viva em nós. Deixamos ir para longe a água suja, as lágrimas, os fiapos, os suores.  Às vezes a gente se arrepende e corre para tampar o ralo. Mas já é tarde e então é preciso aceitar, deixar ir, fechar o ciclo e começar tudo novamente, de alma limpa, a cada lavagem mais batida, mas pronta para uma nova jornada.  Ai de nós se não fossem os ciclos… Talvez estivéssemos ainda rodando e nos afogando nas mesmas águas.

Emilia Freire

Psicologias do Brasil

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