Mais uma vez um matador em série choca a sociedade. Um pintor assumiu ter matado pelo menos cinco pessoas e enterrado seus corpos no terreno do barraco onde morava. Matou sem causa aparente e provavelmente o número de vítimas deve ser ainda maior. Em 1998 Francisco de Assis Pereira, conhecido como maníaco do parque estuprou e matou pelo menos seis mulheres levando-as para um parque na zona sul de São Paulo. Ele as abordava, convencia-as a subir em sua moto e o fim era trágico. Ao ser questionado sobre como conseguia convencer as vítimas a subir em sua garupa sendo que ele era um total desconhecido para elas, ele respondeu: “-Eu falo o que elas querem ouvir”. O pintor da Vila Alba e o maníaco do parque são psicopatas, assim como Suzane Von Richthofen que planejou e participou da morte dos pais e foi vista no dia seguinte chorando no enterro deles numa atuação digna de uma grande atriz.

Duas fortes características de um psicopata são a inteligência e o poder de persuasão. Os psicopatas também mentem muito, manipulam e trapaceiam. São perfeitos demais quando os conhecemos no início e superficialmente. Estão sempre elogiando e são convincentes. São bastante egocêntricos e conseguem se aproximar das pessoas em momentos de vulnerabilidade. Geralmente eles têm um padrão de comportamento transgressor, ficam agressivos sem motivos e nunca sentem culpa, remorso ou empatia alguma.

O diagnóstico da psicopatia só é possível após os 18 anos e deve ser feito por um psicólogo e/ou psiquiatra. Antes disso, os sinais podem apenas ser diagnosticados como Transtorno de Conduta. Ainda assim, algumas características infantis indicam que a criança pode vir a ser um adulto com o transtorno. Crianças que maltratam animais, que mentem com muita frequência, que fazem bullying e se mostram perversas com os amigos na escola, que não obedecem às regras, que têm insensibilidade emocional, dificuldade em manter amizades e vínculos, que apresentam comportamentos transgressores como pequenos furtos, vandalismo e violência; têm mais chances de serem adultos psicopatas.

A proporção da doença é de 1% a 4% da população mundial, sendo três homens para cada mulher. Nem todos os psicopatas são assassinos – muito pelo contrário. Além disso, vale frisar que existem diferentes graus de psicopatia e que nem todos os indivíduos são desprovidos de qualquer limite de conduta. Temos as psicopatias leves, moderadas e graves. Todas envolvem frieza emocional e a incapacidade de empatia, porém, nos casos mais simples, remetem a pessoas que muitas vezes ocupam cargos de destaque, como líderes religiosos, executivos bem sucedidos e políticos que muitas vezes vivem de golpes, roubos, fraudes e estelionatos.

A psicopatia possui duas causas: disfunção neurobiológica e influências sociais recebidas do ambiente ao longo da vida. Quando ocorre em grau leve e é detectada precocemente ela pode – em alguns casos – ser modulada através de uma educação mais rigorosa. Um ambiente familiar mais estruturado e com acompanhamento dos filhos ditos problemáticos certamente não evita a psicopatia, mas pode inibir uma manifestação mais grave.

A psicopatia é irreversível, porém vale lembrar que a existência de apenas algumas características da psicopatia não são suficientes para o indivíduo ser diagnosticado com o transtorno. Existem casos de pacientes que foram diagnosticados e que posteriormente não se mostraram psicopatas. Já outros nos quais os sintomas não foram percebidos, se mostraram extremamente passíveis de serem psicopatas. Por isso, dentre outros critérios, as características são avaliadas pela frequência e intensidade com as quais se manifestam. Isso acontece porque muitos psicopatas já conhecem as características do distúrbio e, por isso, conseguem ser frios o bastante para ludibriar e enganar até os especialistas.

Como muito bem disse a Dra. Ana Beatriz Barbosa da Silva em seu livro sobre o assunto intitulado “Mentes Perigosas – O psicopata mora ao lado”: Eles estão entre nós. Indico a leitura. A rede Globo está reprisando a novela Caminho das Índias, na qual Letícia Sabatella interpreta brilhantemente uma psicopata. A personagem criada por Glória Perez foi inspirada no livro citado por mim acima. Ao perceber a proximidade de um psicopata não há muito a fazer a não ser manter distância. Os psicopatas nunca procuram ajuda psicológica. Aos poucos que cruzaram o meu caminho profissional, a única coisa que fiz foi mostrar a eles que eu percebia a presença do transtorno. Quem procura a nossa ajuda são as suas vítimas.

Viviane Battistella

Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...

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