Me disseram que tudo tem seu tempo e eu acredito. A gente briga porque na dor o relógio anda devagar, se demora, alonga as noites, estica as lágrimas, tira a fome e o sono. O final de ano traz essa clareza da dor, dos ciclos que se encerram e dos que ficaram abertos, pedindo olhos e alma, pra findar ou continuar, é o tempo de revisão.

Ele sempre está ali, fantasiado de criança ou velho sábio, dançando nos cômodos da nossa casa. Engano pensarmos que ele se desenrolará conforme os nossos sonhos. Suas pernas atravessam caminhos diversos. Ele pode trazer acomodação pro amor que saiu bruscamente, arrumando lugares em nossos corações, doando a história que tivemos como forma de aceitar o que nem sempre aceitamos.  Em paz seguiremos, certos dos nossos possíveis…

Mas há becos e atalhos onde as histórias podem se perder. O tempo também traz esquecimento, afasta, dissolve as cenas das histórias que pedem outras residências, aquelas onde não houve espaço para sermos quem gostaríamos de ter sido, onde os nossos possíveis não eram aguardados. São os lugares onde fomos metades, podíamos pernoitar mas não havia licença para as refeições, cama macia sem direito às refeições. Não podemos ficar confortáveis em lugares onde o acesso é limitado.

O exercício da entrega é um jeito de dizer que estamos onde estamos, simples assim. Viver pede entrega, não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, não seria leal com o nosso existir. Talvez o tempo queira nos dizer apenas isso, esteja onde você está, desligue o celular, decore a cor da roupa dos que habitam a sua vida, descreva os olhos, as mãos e a alma. Arrume lugares pro passado e futuro e exista hoje, é só o que você tem, mesmo que não acredite…

Teresa Gouvea

Psicóloga Clinica Especialista em Família pela PUC SP, especialista em Luto pelo 4 Estações Instituto de Psicologia SP.

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