Marcel Camargo

A vida começa quando decidimos parar de tentar agradar a platéia

Costumamos atrelar a idade aos prazeres da vida que possam ser desfrutados ou não. Raramente conseguimos deixar de imaginar se agir de determinada maneira não parecerá ridículo, tendo em conta a idade que temos, como se a cada fase da vida correspondesse necessariamente um rol de atividades adequadas. E assim muitas vezes nos privamos de prazeres frugais simplesmente porque achamos que não temos mais idade para aquilo.

Embora muitas coisas realmente dependam da fase da vida em que estamos, do grau de maturidade que já alcançamos, jamais poderemos estar errando caso tomemos atitudes que não fujam ao nosso controle, que não nos esgotem física e mentalmente. Querer aguentar, por exemplo, partidas seguidas de futebol quando já não temos mais vinte anos e se não estivermos com a saúde em dia será incoerente. Mas por conta do que possa nos acontecer e não em razão da opinião alheia.

Precisaremos ouvir os conselhos de quem nos rodeia, haja vista que muitos já passaram por experiências que poderão nos ser úteis, porém, teremos que selecionar os palpites que nos chegam, pois muitos deles não terão serventia, ainda mais se enviados por quem mal nos conhece. Claro que aqueles que nos amam de verdade e torcem por nós trarão aconselhamentos de bom grado, no entanto, jamais poderemos nos permitir nos tornarmos surdos aos nossos próprios anseios, às nossas vontades.

Ponderarmos sobre o que sonhamos e a utilidade daquilo tudo em nossas vidas será providencial, para que não nos lancemos a viagens inúteis que nada acrescentarão a nossa jornada. Aquilo a que renunciamos deverá ficar lá atrás, como algo que não era nosso, não nos faria bem, ou carregaremos pesos de remorsos por demais danosos ao nosso bem estar. Teremos que ter a certeza de que nós próprios tomamos a decisão naquele momento, para que não culpemos injustamente os nossos queridos pelas escolhas que foram de fato somente nossas.

Eis um dos segredos do bem viver: não querer agradar a todos, valorizando sobretudo o que somos e quem temos como companheiros certos de jornada. Estender nossos ouvidos para além daquele círculo de pessoas que realmente se importam conosco acabará nos desviando de nossas verdades, de nós mesmos. Matar, a pouco e pouco, a nossa essência, para agradar o mundo lá fora será a pior coisa que poderemos fazer contra nossa felicidade. Se estivermos felizes junto dos poucos que importam, já poderemos nos considerar abençoados, pois é disso que se vale a vida, afinal.

Imagem de capa: Everett Collection/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

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