Ivonete Rosa

Virou moda ferrar com o emocional do outro, e responsabilizá-lo pelas expectativas

A frase “cada um é responsável pelas expectativas que cria” viralizou nos últimos tempos, especialmente, na era das redes sociais. Ela já virou uma espécie de jargão nos mais variados contextos: em posts, mensagens, e chega a ser uma admoestação na fala de muitos blogueiros do ramo de saúde mental espalhados pela web.

Ocorre que eu discordo, em partes, dessa afirmação. Inclusive, tenho percebido muitas pessoas usando essa frase como escudo para justificar o mal que têm causado a outras, intencionalmente.

Vou explicar: muitas pessoas se aproveitam da vulnerabilidade emocional de outras e se aproximam, fazem promessas, se comportam como se fossem bem-intencionadas, tiram proveito, e depois se revelam da pior maneira possível ou simplesmente desaparecem. E se a vítima esboça o descontentamento dela, acaba ouvindo: “foi você quem criou expectativas, não sou responsável pelo o que você sente”.

Percebe a situação? É lógico que cada um é responsável pelo a expectativa que alimenta, contudo, quem agiu de má fé também tem responsabilidades sobre o estrago que causou no outro. Porque há uma diferença entre alguém se iludir por conta própria e se iludir porque recebeu todo o reforçamento para isso.

Sendo mais específica, você pode frustrar alguém sem ter essa intenção, como pode, também, detonar a saúde emocional do outro usando de má fé, falando e se comportando de forma a nutrir sentimentos que, de antemão, você sabe que não vai corresponder. Percebe a diferença? Eu estou falando de intenção, de premeditação, não estou falando de equívoco, de mal-entendido.

Diante de tudo isso, eu acho que nos responsabilizarmos pelos danos que causamos ao outro. Tirar o corpo fora e simplesmente usar esse jargão “as expectativas foram suas” é uma forma covarde de brincar com as fragilidades alheias e tentar sair ileso de qualquer culpa.

Na dúvida, basta não fazer ao outro o que não gostaria de receber. Não tem segredo. Num contexto desses, temos dois sujeitos: um responsável por acreditar, e outro que se fez passar por alguém confiável. Ambos são responsáveis. Fim.

Foto de Matheus Bertelli de Pexels

Ivonete Rosa

Sou uma mulher apaixonada por tudo o que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e psicologia. Escrevo por qualquer motivo: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel.

Share
Published by
Ivonete Rosa

Recent Posts

Demorou dois anos pra estrear — e bastou uma semana na Netflix pra virar sensação nacional

Com roteiro baseado em um sucesso do Wattpad e fãs esperando há tempos, Através da…

4 dias ago

Essa produção da Netflix tem menos de 90 minutos — e vai bagunçar sua cabeça por dias

Charlie Kaufman não faz filmes para assistir no piloto‑automático. Em Estou Pensando em Acabar com Tudo…

4 dias ago

Parece só mais um drama comum… até você perceber que está emocionalmente destruída no último episódio (imperdível)

Tem filmes que não precisam gritar para esmagar seu emocional. Pieces of a Woman, disponível…

4 dias ago

Estado psicológico de um time: você precisa checá-lo antes de uma aposta?

Nas apostas esportivas, o acesso a estatísticas e a interpretação de estatísticas nunca foi tão…

1 semana ago

Nova série sobre Bolaños expõe que o criador de Chaves “não era um santo”, diz diretor

Quando uma biografia televisiva chega, ela mexe em memórias afetivas e também em gavetas que…

2 semanas ago

Desviar o olhar é mentira, vergonha ou timidez? Psicólogos revelam o que isso indica

Alguns segundos de silêncio acompanhados de olhos que escapam para a lateral podem mudar o…

2 semanas ago