Por Laila Wahab– psicoterapeuta cognitiva

Temos observado que muitos pais estão mais atentos no que se refere a educação de seus filhos. Nos solicitam indicações de livros que os ajudem na resolução de problemas vivenciados no dia-a-dia. Tais indagações, nos remetem a nossas próprias lembranças, de como nossos pais lidavam com estas situações quando éramos crianças. Quais métodos eram utilizados e quais não tinham nossas simpatias, mas, independentemente de aprovarmos ou não, carregamos suas impressões impregnadas pela aura de autoridade paterna. Ainda que não tenhamos incorporado ou tenhamos assimilado suas formas de agir.

Hoje sabemos que existe um universo de sugestões para a educação de filhos, é natural que nos aproximemos de táticas e recomendações, na esperança de descobrirmos quais delas poderão ser adotadas. Ainda que não tenhamos consciência, nossas reações frente a estes conselhos, estarão permeados por resíduos de nossas próprias experiências passadas na condição de filhos.

Tanto a satisfação quanto o desapontamento destas técnicas apresentadas em inúmeros livros ou por profissionais, podem conter parte do temor de nossas próprias ideias, que interferirão seriamente em nossa capacidade de implementação. Rastreamos sorrateiramente o fracasso destas táticas quando em desacordo com nossas crenças nucleares, carregadas por nossos ressentimentos, oportunidade para reafirmarmos a nós mesmos, de que a forma como pensávamos ou criamos era a correta. Confirmando nossas velhas convicções ou crenças iniciais.

Meu professor do curso de formação em psicologia cognitiva costumava dizer “nossos pacientes estarão sempre prontos para aprovações”. E este “sempre” não se trata de uma distorção cognitiva.

Referido artigo traz esta proposta ensejadora de reflexão. Pais que buscam genuinamente orientações em realidade precisam de um olhar mais atento para o que acontece entre pai e filho, ou mãe e filhos ou filhas; não em sua generalização, mas em suas particularidades.

Perceba que provavelmente, qualquer livro que venham a escolher, estará explicita a regra de não deixar objetos pontiagudos próximos às crianças. No entanto, hospitais recebem um número significativo de crianças que se ferem ou se machucam em acidentes domésticos. Isto nos remete a célebre frase escrita por Mary Wortley Montagu ” algumas vezes, dou a mim mesma conselhos admiráveis, mas que sou incapaz de segui-los”. A despeito de orientações que irão contrárias as formas mais tranquilas que os pais elegerão para orientar suas ações.

Outro exemplo: muitos pais acham que deixar a criança chorar à vontade é mais fácil do que correr o risco de deixa-la mimada, solicitando o colo a cada mal-estar. Não que o choro da criança não venha a causar desconforto. Muitas vezes os pais pegam esta criança no colo, por temer olhares de reprovação ao choro insistente da criança e se percebam ineficientes. Ainda que de má vontade o pai ou a mãe pegarão no colo esta criança. Assim, se uma orientação é seguida por pais ressentidos, quase sempre seu efeito será o indesejado, a criança continuará chorando.

Assim, temos que, o acompanhamento e orientação à pais, pode trazer inúmeros desafios psicoterapêuticos. Podemos ter interferências e reações fortes comportamentais em decorrência da falta de compreensão dos métodos por nós utilizaremos quanto psicoterapeutas. A projeção destes pais, de suas infâncias na vida de seus filhos, a forma como pensam e agem pode contaminar a condução e o tratamento bem como as propostas psicoterapêuticas em sua base. Alterando a qualidade e eficácia do resultado esperado e desejado no comportamento da criança ou adolescente.

Pais que se reconhecem em seus filhos, sem que percebam, trazem vivas suas memórias, suas vivencias. Exemplo: uma mãe que teve relacionamento conturbado com sua mãe, vê a filha explodir em um acesso de raiva xingando-a, voltará naturalmente as cenas de sua própria infância, onde se sentia rejeitada e preterida por sua mãe. Sem perceber, se relaciona da mesma forma adoecida com sua filha.

Nosso trabalho será mostrar a estes pais que apesar disto, podem agir de maneira razoável, pacientes e benignos. E que em muitas situações de conflito serão desafiados e questionados por seus filhos, não só em seus valores, mas em suas maneiras de ser. Que não se sintam ameaçados pois tudo isto faz parte, e em grande proporção oportunizará a revisão de conceitos, mais abrangentes, funcionais capazes de construir memória mais sadias e felizes de suas vidas.

Laila Ali Wahab Morais

Advogada, psicóloga clínica e escolar

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