Ao se falar em perdão, é comum nos remetermos quase de imediato a uma leitura religiosa, ou seja, o perdão sendo percebido como unilateral, entendido como algo que doamos a alguém, um ato de desprendimento, generosidade e bondade com o outro, mas é mais do que isso…

Quando estamos magoados e feridos, os sentimentos mais presentes são a tristeza, a decepção e a raiva. Neste momento é difícil se pensar em perdão. Primeiramente é necessário o momento de viver a própria dor, senti-la para depois resolvê-la. Muitos tentam pular essa fase inevitável e como conseqüência apenas prorrogam seu próprio sofrimento. A raiva é o mais primário dos sentimentos, é gerada pela frustração e pelo sentimento de impotência. Dela nasce o desejo de vingança como uma tentativa de diminuir a própria dor, mas a vingança é um sentimento traiçoeiro, pois se alia a seu “adversário” no momento em que sua vida passa a ser apenas um instrumento com o objetivo de atingir ou prejudicar aquele que lhe feriu. Facilmente a vingança torna-se seu senhor e você seu escravo. Trata-se de um ciclo vicioso e aparentemente sem fim.

Também não podemos esquecer que as algumas pessoas são muito mais susceptíveis a mágoas e melindres que outras, possuem limiares diferentes, variando de acordo com sua personalidade, capacidade de percepção, capacidade de tolerar frustrações, entendimento de mundo, sensibilidade, ou seja, de acordo com sua saúde emocional. Uma mesma vivência é sentida , percebida e compreendida de forma diferente até mesmo entre irmãos, que supostamente foram criados sob as mesmas variáveis, o que dirá entre pessoas que possuem “crivos” diferentes.

Somos seres carentes de relacionamentos, o ser humano precisa se relacionar para se desenvolver emocionalmente. A família é o berço do desenvolvimento emocional, costumo dizer que é nosso útero social, pois é através dela que recebemos essa carga de crenças, entendimentos e leituras sobre o mundo.

Nossas relações passam pelo crivo dessas crenças, pela forma de entender o mundo que nos cerca e de nos perceber enquanto pessoas, nossos direitos e responsabilidades. Estamos sempre construindo e reconstruindo nossas idéias, num ciclo dinâmico que pode ser saudável ou não. É claro que essas crenças trazem todos os preconceitos e dificuldades relacionais de nossos ancestrais, afinal ninguém pode dar aquilo que não tem.

Cabe a nós em nossa jornada acessar nossas fontes de saúde que são nossa criatividade e espontaneidade. Elas nos ajudarão a tentar o novo, a perdoar,a reconstruir, a olhar de outra forma a mesma questão, e a nos fortalecer, nos impulsionando para novos movimentos e experiências.

Relacionar-se é fácil quando encontramos pessoas que pensam e percebem o mudo como nós, ou seja, se utilizam do mesmo fóco para avaliar os acontecimentos, mas a grande questão é quando nos deparamos com pessoas que possuem outros parâmetros e valores, neste caso, para que a relação seja possível é necessária uma carga a mais de respeito ao outro a suas idéias e a seu ponto de vista e obviamente de respeito pessoal.

Num processo psicoterapêutico buscamos focar o que aquela experiência lhe ensinou e qual sua responsabilidade naquele ato,o quanto você contribuiu para que aquilo acontecesse, buscamos deixar o outro em segundo plano, ganhando com as experiências. A raiva não é negada ou sublimada ela é canalizada para movimentos que tragam crescimento e desenvolvimento pessoal. Precisamos aprender a transformar a raiva em energia positiva provedora de mudança e transformação.

ENTÃO O QUE É PERDOAR? Perdoar é realmente um ato de amor, é assumir a responsabilidade sobre os próprios atos e desejos, é perceber-se na dimensão do humano e como tal entender a sua significância. Perdoar é amadurecer emocionalmente é aprender que somos falíveis e imperfeitos, tal qual o outro com quem nos relacionamos e essa é a genialidade do ser humano. Não existem os certos e os errados, existe o olhar a partir de um ponto de vista e cada um tem o seu, portanto não existe “A verdade”, existem verdades e realidades diferentes. O parâmetro é o respeito, o sentimento de cidadania, a ética e o amor. A religião, as crenças de forma geral, a psicologia, as ciências são formas de interpretação, linguagens e caminhos diferentes para difundir esses mesmos parâmetros.

Por: Psicóloga Sirley R. S. Bittú

Fonte: http://clinicaselfcare.com/index.php

Sirley Bittu

Psicóloga Especialista Clínica, Psicodramatista Didata e Supervisora. Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA.

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