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Família também é “remédio” para doença mental

Estudo realizado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que a recuperação e o tratamento de pessoas que passaram pelo primeiro episódio psicótico (PEP) podem ter melhores resultados quando o paciente conta com o apoio da família.

PEP é um evento em específico, caracterizado pela primeira internação do paciente em um serviço de saúde, apresentando um ou mais dos sintomas que definem a psicose, entre os quais delírios, alucinações, comportamentos desorganizados ou bizarros. Ele pode ser o anúncio ou o início de um transtorno mental crônico como, por exemplo, a esquizofrenia. Geralmente ocorre entre 15 e 25 anos, durante a adolescência e o início da idade adulta, mas 40% dos casos acontecem entre os 15 e 18 anos de idade e com apresentação de sintomas que, até então, eram desconhecidos.

Segundo a autora da pesquisa, a enfermeira Luiza Elena Casaburi, assim como qualquer transtorno mental, o PEP tem tratamento, que auxilia no combate à cronificação possível da doença que está por vir, ou seja, para evitar que ela se instale e permaneça no indivíduo.

Nesse sentido, diz Luiza, a família é importante a ponto de ser responsável por tudo que possa acontecer com o adoecido, incluindo a probabilidade de ser reinserido na sociedade, o que é um dos pontos mais críticos após o PEP. A pesquisadora lembra que, durante muito tempo, o distanciamento entre doentes e familiares por meio da internação em clínicas especializadas era tido como a melhor solução. “Hoje, a nossa pesquisa, junto com outras da mesma temática, demonstra que os familiares são vistos como colaboradores na resolução de problemas.”

Para a pesquisadora, o engajamento da família é essencial para um futuro de qualidade do jovem vítima do PEP. O engajamento da família é a forma que ela encontra de apoiar e ajudar o adoecido e acontece de diversas maneiras. “A demonstração de apoio ao paciente e ao tratamento, o compartilhamento de sentimentos e trocas afetivas e, ainda, a correta supervisão dos medicamentos e comportamentos do paciente são algumas características de um bom engajamento.”

Do estudo da EERP participaram 12 jovens com, em média, 21 anos, que estão em tratamento no Ambulatório do PEP do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP e, ainda, 13 familiares, em sua maioria mães, que acompanham lado a lado o tratamento do adoecido após o PEP.

Família e seus benefícios

A partir do momento em que a família se alia ao tratamento do paciente, ajudando no uso das medicações, no deslocamento e na participação ativa nas consultas junto da equipe multiprofissional, supervisionando comportamentos problemáticos ou de risco para o adoecido, ambos saem ganhando. O paciente adquire mais confiança em seus familiares, tornando mais fortes os laços de parceria e companheirismo, enquanto a família aprende a se reorganizar, um ajudando ao outro e redefinindo-se a função de cada um dentro do lar. “Ao assumir papéis que outrora eram do membro adoecido, a família pode descobrir novas habilidades e recursos adaptativos”, relata Luiza.

A respeito da dor e sofrimento causados por se ter um parente nessas condições, as expectativas dos familiares em relação a ele passam por alterações, transformando desde as relações afetivas até a dinâmica familiar. Depois do PEP, sentimentos de insegurança, medo, frustração e dúvida em relação ao futuro vêm à tona. As responsabilidades se acumulam principalmente para as mães, que dividem seu tempo entre cuidar da casa, trabalho e do familiar adoecido.

“A experiência de cuidar pode alternar entre as fases de relativa calma e tempos onde carga considerável é colocada sobre o cuidador. Esse conjunto de influências faz com que a continuidade do tratamento após o PEP seja considerada um desafio para o trabalho da enfermagem com as famílias dos pacientes acometidos por transtornos mentais.”

Luiza ainda destaca a importância do autocuidado, da reinserção social e da fé no potencial positivo do adoecido, citando uma frase dita por uma das cuidadoras entrevistadas: “Eu quero que ele saia e controle a vida dele sabendo que é um doente psiquiátrico para sempre por causa da sua patologia, mas que está vivo! É capaz de produzir, de formar uma família, de se responsabilizar por essa família e deixar um exemplo”.

A dissertação Engajamento familiar na manutenção do tratamento em saúde mental após o primeiro episódio psicótico foi defendida na EERP em setembro do ano passado, com orientação da professora Sueli Aparecida Frari Galera.

Stella Arengheri, de Ribeirão Preto

Imagem de capa: Bruno Nascimento on Unsplash

TEXTO ORIGINAL DE JORNAL DA USP

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