Envelheceram juntos, o amor acompanhou os passos lentos, a vagareza que a vida foi pedindo, a demora no fazer as coisas cotidianas… envelheceram o amor, com todos os cuidados que ele pedia, sem perde-lo nas esquinas da casa, sem descuidar da sua fome, que mudava de cor, mudava de som, mudava suas faces…
O amor não necessitava de grandes arroubos, daqueles movimentos onde a gente não pensa, ali, quietinho, sem pressa, pedia mudanças de hábitos. Ele, cuidando dos remédios dela, nos horários certos, como se mantendo sua saúde, garantisse uma partida mais tardia, garantisse presença eterna.
Caminhavam juntos, se amparando, nas ruas da cidade. Um caminhar lento, pras coisas programadas da vida. Assim, enganchados, seguiam pra igreja, pra um almoço ou uma viagem.
Ele cuidava do café. De manhã adentrava o quarto, café quente, despertando seu amor, uma de suas primeiras tarefas. Ela cuidava do arroz, soltinho, como ele gostava.
E o amor se manteve ali, nos cuidados rotineiros, como se reverenciasse as rugas, o envelhecimento, sem brigar com as coisas do tempo, que chega e pede outras formas de viver.
Medo? Tinham, mas de se perderem na partida não escolhida, dessas que um dia a gente acorda e falta alguém ali, no quarto, no café, nas andanças. Quem iria antes? Se amavam nas delicadezas e miudezas, em paz com a vida e, por isso, temiam…
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