COLABORADORES

Os desertos que atravessamos

Um dos mais inóspitos desertos pelo qual tive que atravessar, foi a depressão. Sorrateira, ela me pegou de jeito em 2008. Até então, tinha passado por algumas terras áridas, mas desérticas, essa foi a primeira.

Ninguém nesse mundo quer ter depressão ou qualquer outra doença. Ninguém quer ter problema de ordem alguma. Eu também não queria. Porém, ela veio. Avassaladora e indelicada – uma vez que não havia sido convidada. Veio, se instalou e mudou minha vida. Me tirou o chão. Balançou profundamente minhas certezas e de quebra, ainda me deu uma amostra do que costumamos chamar de “o fundo do poço” – ou algum lugar similar.
Não sei se todos, mas pelo menos a maioria de nós, uma hora ou outra, vai se deparar com um deserto. Não é uma notícia muito agradável, admito. Mas é a realidade. Para alguns, como eu, foi a depressão. Para outros, pode ser um desemprego, uma separação, a perda de um ente querido, uma outra doença de igual gravidade, seja física ou mental, uma decepção amorosa.

Assim são os desertos. A maioria deles, nós não buscamos – pelo menos, não conscientemente – eles simplesmente aparecem diante de nós. É mais ou menos, como estar dirigindo seu carro por uma via asfaltada e, do nada, ela termina. Você se vê, diante de um local desabitado, arenoso, onde seu carro não tem a mínima utilidade, uma vez que atolaria antes que você pudesse colocar a segunda marcha. Você precisa descer e caminhar pelo terreno ermo, debaixo do sol escaldante. E, cabe a nós decidirmos se atravessamos ou ficamos parados esperando que o calor abrasante, faça seu trabalho e nos reduza a meras carcaças.

Obviamente que passar por eles, não é tarefa fácil. E mais, apesar de óbvio, é bom lembrar que cada deserto é particular. O que eu considero como tal, outros podem não considerar. Parafraseando a música: só nós sabemos os desertos por qual passamos…

Mas, independente da extensão ou das dificuldades dessa travessia, ele (o deserto), como tudo na vida, é finito. Depois da longa e, às vezes, penosa caminhada há sempre um local com água e sombra nos aguardando. Então, se eles forem inevitáveis, que a vida nos conceda forças, para cruzá-lo, e chegar ainda mais forte, do outro lado. Porque o outro lado sempre nos aguarda.

Jackeline Barros

Graduada em Letras pela faculdade FUNESO/UNESF - Olinda - PE Especialista em Gestão de pessoas pela FCAP/UPE - Recife - PE Leciona para jovens e adultos. Dá palestras. Duas áreas de grande interesse: comunicação e comportamento humano.

Recent Posts

Filme de suspense que recebeu uma enxurrada de prêmios é uma das boas opções da Netflix

Um intrincado suspense psicológico que trata de temas muito profundos ao mesmo tempo em que…

20 horas ago

Billie Eilish desabafa sobre problemas com saúde mental: “Nunca fui uma pessoa feliz”

A cantora norte-americana de 22 anos contou que sempre sofreu com a depressão e que,…

21 horas ago

Quem era a psicóloga que foi morta dentro do próprio consultório no interior do RN

A psicóloga Fabiana Fernandes Maia Veras, de 42 anos, foi morta dentro do próprio consultório…

1 dia ago

Para ver na Netflix: A mais perfeita adaptação cinematográfica de um romance de Jane Austen

Um filme que aquece o coração e permanece na memória por muito tempo depois dos…

2 dias ago

Meu ex-marido se casou com minha ex-terapeuta

A advogada Ana Serafim, de 46 anos, viralizou nas redes sociais ao compartilhar um vídeo…

2 dias ago

Psicóloga é encontrada sem vida em clínica; suspeito pelo crime é ex-marido de paciente da vítima

De acordo com informações da Polícia Civil, o suspeito se aproximou da psicóloga para conseguir…

2 dias ago