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Psicopatia; Desmistificando e Prevenindo.

Muito se tem falado e até publicado sobre a psicopatia, frequentemente esse tema vem gerando fascinação e curiosidade, sendo inclusive retratado em filmes e séries de televisão. Contudo, é bastante provável que a psicopatia tem sido tratada fantasiosamente e irresponsavelmente. Para explicar a as minhas razões eu devo utilizar o livro: Ponerologia: Psicopatas no Poder do autor polonês Andrew Lobaczelski somadas às minhas impressões e estudos sobre o tema. Vale lembrar que eu não compactuo totalmente a visão naturalista e até “psicologista” desse autor, mas considero e valorizo o esforço dele em investigar sobre o assunto em um contexto tão difícil e limitante.

Diferentemente dos filmes e séries de televisão os psicopatas não são indivíduos brilhantes e genais (salvo raríssimas exceções), muito pelo contrário, são frequentemente medíocres e limitados, tendendo em sua maior parte à marginalidade e ao desprezo comum. Entretanto, rapidamente desenvolvem uma capacidade de sedução que se deve exclusivamente ao seu modo anômalo e bizarro de agir, como os indivíduos normais (não psicopatas) acreditam tratar-se de alguém comum acabam frequentemente sendo enganados. Por isso é conhecida à afirmação de que o campeão mundial de esgrima perde para o novato, exatamente por este ultimo efetuar movimentos tão desengonçados que são imprevisíveis por aqueles que dominam melhor a técnica.

Outro mito bastante difundido é de que os psicopatas agem solitariamente, de fato os psicopatas tendem a não conviver com indivíduos normais pelas suas conhecidas limitações: Falta de empatia, falta de sentimento de culpa, falta senso de realidade etc. Mas, ocorre frequentemente de psicopatas aprenderem com alguém normal a forjar certa identidade e senso de moralidade, também é descrito o fato de psicopatas identificarem outros indivíduos psicopatas formando verdadeiras redes de atuação no tecido social, nas organizações, bairros etc.

Dito isso precisamos entender que há diferentes tipos de psicopatia, sem entrar em detalhes tomemos o seguinte espectro: De um lado nós temos indivíduos aparentemente inofensivos que são “esquizoides” ou “astênicos”; Estes indivíduos são afinados respectivamente aos conceitos filosóficos e causas sociais revolucionárias, cultivam por onde passam um pessimismo doentio em relação ao mundo, a humanidade e a sociedade em que vivem ou um otimismo patológico em relação às causas politicas. Assim são responsáveis por criar e propagar ideias (especialmente nos centros acadêmicos) contrárias ao senso comum e a tradição cultural – especialmente ao senso de moralidade comumente cultivado -.

No outro lado do espectro temos os “paranoides”, os “frontais”, os “caracteropatas” e os “essenciais” que são indivíduos com grande vivacidade e grande capacidade de sedução e manipulação através da fala, agindo sempre de modo contrário aos valores do senso comum (paramoralidade) inclusive como mandatários de assassinatos em massa, ações politicas que prejudicam o bem-estar das pessoas comuns etc. Eles justificam os seus crimes apoiando-se nos discursos e ideias cultivadas pelos indivíduos de caráter esquizoide ou astênico descritos anteriormente, utilizando-se desse material ideológico para prejudicar a imensa maioria de indivíduos normais que eles desprezam e temem.

É possível identificar um psicopata especifico? Não. A identificação de um psicopata requer investigação neutra, isso porque quando uma rede de psicopatas age é bastante conhecido o fato de que indivíduos não-psicopatas próximos apresentem estados de confusão mental, fala excessiva, teatralidade, risadas inapropriadas, sentimentalismo, esquecimentos e até comprometimento com comportamentos e ideias psicopáticas. Isso acontece porque a destruição do senso de moralidade é efetuada através de estratégias de convencimento, ridicularização e questionamentos por organizações, grupos ou quaisquer outras estruturas em processo de degradação influenciado por psicopatas (falarei disso mais a frente).

Então frequentemente indivíduos normais são seduzidos ou impelidos a agir segundo novas regras e modismos psicopáticos propagados, muitas vezes irresponsavelmente aplaudidos pelas pessoas comuns indiretamente prejudicadas por isso. No entanto isso ocorre intensificando o grande mal-estar conhecido como histeria (individual e até coletiva), sujeitos influenciados por psicopatas, se não forem psicopatas, ficam confusos, ambíguos, sentem-se culpados em relação a si mesmos e aos outros sem entender realmente o motivo.

Notem que a distinção entre o sujeito normal, porém histérico, identificado com a mentalidade psicopática e o psicopata real podem não ser claras, isso também varia de acordo com o grau e envolvimento da aproximação com o psicopata; quanto mais próximo, mais ocorrem atuações para-morais tornando impossível discernir quem é normal e quem não. Ainda assim pode ocorrer de raramente indivíduos histéricos atuarem de modo até mais cruel que o psicopata que os influencia!

Aliás, vale lembrar que os psicopatas são minoritários, suponhamos que representem no máximo 15 % de uma população, excluindo os totalmente marginalizados ou os que se adaptaram bem à sociedade restam os que exercem influencia negativa: Talvez 2%.- Não existem psicopatas em “todo lugar”-. Contudo a impressão de que “eles estão por toda parte” é apenas o resultado ampliado e propagandístico de suas influencias, portanto é importante perguntar como prevenir-se dessa influencia doentia?

Imagem de capa: Shutterstock/Prachaya Roekdeethaweesab

Carlos Bengio

Psicólogo. CRP 117690. Mestrando pela PUC em psicologia Clínica - Método psicanalítico e formação da cultura - Clínica Particular: São Paulo, (SP). Psicólogo clínico, interessado em psicanálise cultura e sociedade, especialmente cultura e sociedade brasileira. Contato: (11) 9 7578-1485(Tim).

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