Por Psicóloga Angelita Scardua

Em 2005 os pesquisadores britânicos Carol Rothwell e Pete Cohen anunciaram que haviam descoberto a fórmula da felicidade. Eles chegaram a essa fórmula entrevistando milhares de pessoas, as quais perguntavam o que as deixava feliz. Com isso eles identificaram algumas condições nas quais homens e mulheres se sentem felizes. Segundo os pesquisadores, as mulheres tenderiam a se sentirem mais felizes com o clima quente, convivendo com a família e perdendo peso. Os homens, por sua vez, encontrariam a felicidade no romance, no sexo, na vitória de seus times e em hobbies.Com esses resultados, os pesquisadores chegaram à fórmula da felicidade, que seria:

Felicidade = P = (5xE) = (3xH).
Onde “P” são as características de personalidade como otimismo. “E” significa as condições existenciais, tais como saúde, estabilidade financeira e vida social. “H”, por fim, corresponde a autoestima, ambições e senso de humor.

A tal fórmula não “vingou” como uma das contribuições mais memoráveis no estudo da psicologia da felicidade, e porque não? Por que as condições identificadas pelos pesquisadores como geradoras de felicidade dizem muito mais respeito à alegria do que à felicidade.

E alegria e felicidade não são a mesma coisa? Não! Explico: se você está com muita fome, esse estado fisiológico desagradável desencadeia respostas físicas, cognitivas e emocionais negativas como irritação, desatenção, hipoglicemia, dor de cabeça, etc. Quando você come, suprindo a necessidade de alimentar-se, seu corpo vivencia uma condição de satisfação fisiológica. Essa condição leva seu cérebro a liberar endorfinas, que são hormônios associados à sensação de relaxamento e de prazer. Sentindo-se mais relaxado e satisfeito você tende a tornar-se mais calmo, mais atencioso, mais simpático, mais alegre! Dificilmente, contudo, a mera satisfação de uma necessidade física, emocional e/ou intelectual produzirá felicidade.

Saciar a fome, abrigar-se do frio ou calor excessivos, aliviar uma dor, comprar uma casa, emagrecer, fazer sexo, passar numa prova, conseguir um novo emprego, arranjar um namorado, etc., satisfazem necessidades físicas, cognitivas e emocionais, e isso gera alegria, satisfação e contentamento. Juntos, esses sentimentos podem significar felicidade, mas isoladamente não. É importante entender que todos esses momentos descritos acima levam a um estado de “estar feliz” e não de “ser feliz”.

Toda vida humana será marcada por momentos desagradáveis, tristes, etc. Todo mundo, em algum momento da vida, terminará um relacionamento, será demitido, criticado, rejeitado, perderá alguém que ama, adoecerá… Se para ser feliz não pudéssemos jamais vivenciar uma perda ou sofrimento ninguém seria feliz, nunca!

Sendo assim, o que os estudos sobre felicidade apontam é que para definirmos a felicidade é fundamental estabelecermos uma diferença entre estar feliz e ser feliz. Estar feliz vincula-se à alegria, que é a sensação momentânea de prazer e bem-estar. Normalmente esse estar feliz implica na fruição de um evento específico, uma experiência singular num determinado espaço-tempo por meio da qual conseguimos satisfazer algum desejo, seja comprar um carro, casar, comer a comida predileta ou encontrar um amigo que há muito não vemos. Ser feliz, no entanto, implica capacidade para lidar com os altos e baixos da vida, sem que isso impossibilite a sensação de que a vida vale à pena. Ou seja, ser feliz não significa não ficar triste, não ter problemas, etc., mas define-se por uma abordagem positiva da vida, por uma habilidade em concentrar forças para valorizar aquilo que é bom e superar aquilo que é ruim. Dessa forma, uma pessoa doente pode ser tão feliz quanto uma saudável, uma medíocre pode ser tão feliz quanto uma brilhante.

O ótimo desempenho do corpo ou da mente não são requisitos necessários para a felicidade. Se há uma fórmula para a felicidade, então, esta seria o equilíbrio emocional. Não se deve entender equilíbrio emocional como um estado inalterável de emoções, mas como a capacidade de lidar com a variação dos estados afetivos. Quando conseguimos fazer isso temos mais chances de vivenciar a felicidade, mesmo quando as condições físicas, cognitivas e emocionais nas quais nos encontramos não estão ou não são excelentes.

 

Angelita Corrêa Scardua

Psicóloga, Mestre e Doutoranda pela USP (SP). Especializada em Desenvolvimento de adultos, na experiência de Felicidade e nos estudos da Psicologia Social.

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