Quem acompanha as estatísticas sobre pena de morte nos Estados Unidos sabe que o Mississippi carregava, nos anos 1980, um dos procedimentos mais brutais então permitidos pela lei: a câmara de gás.
Foi ali que, em 20 de maio de 1987, Edward Earl Johnson, recém-completados 27 anos, tomou o último fôlego — e obrigou o advogado britânico Clive Stafford Smith a conviver, desde então, com um sussurro que não sai da cabeça dele.
Na época, Stafford Smith percorria prisões do cinturão sulista oferecendo defesa gratuita a condenados sem recursos. Ele se envolveu no caso de Johnson logo depois de ouvir que o rapaz fora preso aos 18 anos, após o assassinato do policial Ron Jones e o estupro de uma jovem.
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O processo corria rápido demais: depoimentos descartados, perícias contestadas e, sobretudo, a recusa da polícia em registrar a fala de uma testemunha que colocava Johnson em outro lugar na hora do crime. “Contei, mas mandaram eu cuidar da minha vida”, relatou a mulher ao advogado.
Enquanto o Tribunal negava apelações, a televisão local exibia entrevistas de moradores divididos entre o desejo de vingança e a dúvida sobre a culpa.
Dentro da Penitenciária Estadual do Mississippi, os próprios agentes penitenciários comentavam que algo não batia. Poucos meses antes da data marcada, um guarda confidenciou a Stafford Smith que ninguém ali acreditava na condenação.
Chegado o momento, o defensor caminhou com Johnson até a cadeira de metal fixada no meio da câmara selada. As alças foram apertadas de modo a esconder qualquer espasmo dos observadores atrás do vidro reforçado.
No instante em que o carcereiro fechou a porta, Johnson inclinou a cabeça e sussurrou: “Tem alguma coisa que você sabe e eu não?”. O advogado diz que ouviu a frase como um pedido derradeiro de esperança — esperança que, por falta de tempo e de escuta das autoridades, não se concretizou.
Foram 15 minutos de sufocamento, causados pela reação do cianeto com o ácido derramado no piso metálico.
Quando o silêncio se instalou, o Mississippi encerrou um processo que levara apenas oito anos, intervalo curto se comparado aos 30 ou 40 anos que outros presos aguardam até o fim dos recursos.
Décadas depois, Stafford Smith largou a rotina de recorrer em sentenças capitais e dirige a organização de direitos humanos Reprieve, dedicada a jovens em conflito com a lei. Ao comentar as recentes execuções malsucedidas noticiadas nos EUA — desde injeções letais com falhas na veia até equipamentos defeituosos —, ele não esconde o cansaço:
“Não me surpreende. Quando a pressa supera a verdade, o resultado é sofrimento desnecessário”.
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