Tem filme que grita na sua cara tudo o que você precisa sentir. “O Jogo da Imitação” faz o oposto: confia no espectador, joga informações na mesa no ritmo certo e deixa você montar o quebra-cabeça junto com o protagonista.
É um drama histórico sobre guerra, matemática e perseguição, mas contado com um toque de humor seco e diálogos afiados — daí a sensação de algo inteligente, mas nada pesado de engolir.
A história gira em torno de Alan Turing (Benedict Cumberbatch), matemático britânico recrutado pelo governo durante a Segunda Guerra Mundial para trabalhar em Bletchley Park, centro secreto de criptografia do Reino Unido.

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A missão do grupo é quebrar o código da máquina Enigma, usada pela Alemanha nazista para criptografar mensagens militares.
Se o código permanece intacto, os aliados seguem praticamente cegos; se cai, muda o rumo da guerra. O filme assume esse clima de corrida contra o tempo, mas sem virar espetáculo explosivo — o foco está nas escolhas, nos conflitos internos e nas estratégias de bastidor.
O roteiro alterna três linhas de tempo: a infância de Turing, marcada pelo isolamento e pela descoberta de um primeiro afeto; o período em Bletchley tentando construir uma máquina capaz de decifrar Enigma; e o pós-guerra, quando ele é investigado pela polícia e tem a vida destruída por causa da sua homossexualidade criminalizada no Reino Unido da época.

Em vez de explicar cada detalhe, o filme deixa algumas lacunas para o público preencher com contexto e intuição, o que reforça a sensação de que você está acompanhando a mente de alguém que pensa sempre alguns passos à frente.
Boa parte do charme vem da dinâmica entre Turing e Joan Clarke (Keira Knightley), única mulher do grupo de decifradores. Ela entra primeiro como candidata subestimada, passa no teste que nenhum homem consegue resolver e vira peça essencial do time.
As conversas entre os dois misturam ironia, cumplicidade e tensão — inclusive quando o filme toca no tema casamento como “solução social” para a homossexualidade de Turing. O texto não transforma nada disso em panfleto: mostra contradições, escolhas forçadas e limites de cada personagem naquela época.

O tom leve aparece nos detalhes: piadas de bastidor entre os analistas, olhares trocados quando um superior militar não entende nada do que está em jogo, pequenas vinganças verbais de Turing contra a burocracia.
Em vez de gags escancaradas, o filme prefere um humor de fricção — aquele desconforto engraçado de ver um gênio socialmente torto tentando se virar em reuniões formais. Ao mesmo tempo, a trilha de Alexandre Desplat e a fotografia de luz suave ajudam a equilibrar a dureza dos temas com uma estética mais “quente”, que aproxima o espectador da vida cotidiana em plena guerra.
Do ponto de vista de premiações, “O Jogo da Imitação” foi um fenômeno: indicado a oito Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator, e vencedor de Melhor Roteiro Adaptado.
Também entrou nas listas de “melhores do ano” de diversas entidades e foi o filme independente de maior bilheteria de 2014, arrecadando mais de US$ 230 milhões com orçamento relativamente baixo.
Críticos elogiaram a atuação de Cumberbatch como uma das mais marcantes da carreira e destacaram o equilíbrio entre suspense histórico e drama humano.
Claro que há debate: historiadores apontam várias licenças dramáticas, tanto na forma como a equipe de Bletchley Park é retratada quanto na simplificação do trabalho matemático de Turing e nas cronologias comprimidas.
Ainda assim, mesmo com esses ajustes de cinema, o filme funciona muito bem como porta de entrada para quem nunca ouviu falar de criptografia, Enigma ou da perseguição legal a pessoas LGBTQIA+ no pós-guerra. Ele simplifica, mas não trata ninguém como incapaz de entender nuances.
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Fonte: BBFC UK
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